abril 07, 2016

A música acaba mesmo aos 33?

Tinha ouvido falar disto há uns tempos mas nunca me tinha debruçado muito sobre o assunto. Acho que nunca quis pensar muito nisso porque, no fundo, sei que é verdade. Há um estudo que conclui que deixamos de ouvir música nova aos 33 anos (encontram o link aqui). A caminho dos 37, não sei muito bem o que pensar.

Um dos factores que contribui para esta diminuição da procura pelo novo são os filhos, claro, mas o autor do estudo sugere que isto acontece porque começamos a ouvir mais músicas infantis (para lhes fazermos as vontades). Ora, aqui em casa, não é essa a razão para não conhecermos o último êxito ou a banda mais indie de todo o sempre. A verdade é só uma: não há tempo para música nova, quando se tem dois filhos, um emprego e nenhuma ajuda por perto.

Eu explico a minha perspectiva. Quando andava na universidade e não tinha gravador de cds, confiava num colega meu que me gravava cds mas sem me perguntar o que eu queria ouvir: ele decidia se era qualquer coisa que eu ia gostar e gravava na mesma, eu que me desenrascasse. Depois, quando eu ainda era solteira e uma miúda sem filhos, chegava a casa depois do trabalho e esticava-me no sofá. Muitas vezes ali ficava até serem horas de dormir mas tinha o computador no colo e saltava de site em site, de comentário em comentário, de sugestão em sugestão até encontrar a última novidade. Muita música nova me aparecia no computador porque tinha apenas gostado da capa do cd ou porque saía uma crítica porreira nas páginas do Ipsilon e, mais tarde, porque apareceram serviços como o Last.fm, que fazia o favor de analisar o que andávamos a ouvir e nos sugeria música parecida. Conheci muitas pessoas com base na música nova que sempre procurei e a todas elas agradeço o facto de me terem ajudado a ver/ouvir/sentir mais coisas.

Mas chegou o primeiro filho e os meus tempos livres passaram a depender dele, não apenas de mim. As minhas noites mudaram também desde há cinco anos e meio: não dormir uma noite seguida desde aí fez com que, na maioria dos dias que se seguiram, eu tivesse pouca ou nenhuma paciência para procurar o Novo. E depois chegou o segundo filho e as coisas complicaram-se ainda mais. O tempo precisa de estar de tal maneira compartimentalizado agora que me sobra pouco tempo para as velhas coisas que me faziam mais feliz. Acho que já aproveito bastante bem o tempo e tento perder o menos possível em frente à televisão sem propósito definido mas não dá para me sentar e navegar sem destino no mar de bandas novas e da moda como antes fazia.

É por isto que não queria admitir mas, musicalmente falando, estou velha e a agarrar-me mais e mais à música que, no passado, já me fez feliz. Não tem mal nenhum, eu continuo a achar que é música boa e muita dele nem sequer envelheceu por aí além mas tenho pena de estar a perder esse combóio - o puro e simples Fear Of Missing Out. Aposto que muita gente acha que é perfeitamente possível manter tudo ao mesmo tempo - casa, filhos, trabalho, maridos e mulheres, últimas tendências da moda/dos livros/da música/das séries/dos filmes. Para mim, infelizmente, não dá e, tendo precisado de escolher, escolhi estar presente no aqui e agora, escolhi tentar manter o ténue equilíbrio entre ser uma pessoa e ser uma mãe e tem resultado mais ou menos. E só por isso, deixo aqui três das minhas músicas preferidas de todo o sempre, mesmo que todas tenham sido gravadas antes do ano 2000. Que se lixem as the next big things




1 comentário:

Dalma disse...

Achei interessante esta tua reflexão, mas querida, mãe é mesmo assim e digo-te que, por experiência própria, a situação só tende a "piorar" pois o eles crescerem e isso traz mais desafios e menos tempo para nós! Mas tb há coisas muito boas e ter vida de família no sentido real da palavra é mt bom!