março 07, 2016

Viver com um propósito

Prelúdio

Várias pessoas na noite de Sexta-feira passada: Mas tu nunca não te cansas dançar?
Eu: Eu tenho tão poucas oportunidades de dançar que (quando o faço) faço-o à séria.

***

Volto à questão dos podcasts e de como me têm feito (entre outras coisas, claro) pensar. Já aqui disse que não acho que nasci para ser mãe, nem sigo as últimas tendências da moda e não sou a maior feminista que conheço. Gosto de pensar em mim como uma pessoa simples ou como uma pessoa num processo longo e complexo de simplificação, que continua a aprender como apreciar e valorizar as pequenas coisas e que tenta a aceitar os acontecimentos diários como algo natural, mesmo que às vezes sinta que não são desprovidos de significado.

Aconteceu-me uma coisa com o passar do tempo: cada vez mais me estou nas tintas para o que os outros pensam de mim ou daquilo que faço. Não tento agradar a ninguém: é possível que seja mais tolerante ou diplomata em questões profissionais mas na minha vida pessoal não tenho papado fretes. Por isso, Sexta-feira à noite fui ao lançamento do rebranding da empresa em que trabalho e dancei até não aguentar mais. Ou até o DJ matar a pista, o que coincidiu no tempo. Há uns anos atrás, demasiado auto-consciente, teria reservas em divertir-me sem amarras. Hoje em dia, ainda demasiado auto-consciente mas sem dar a isso a mínima importância, não hesito em dar tudo na pista de dança, literal e figurativamente - imaginem que a pista de dança é também a vida.

Liga este pequeno fait divers com um podcast que ouvi hoje ( chama-se Amplify your life, da mesma autora do site Abundant Mama) em que se discutiam os conceitos de slow living e de knowing your why. Muito resumidamente, a ideia é que devemos tentar encontrar o propósito nas nossas vidas, ou seja, procurar aquilo que nos faz mais feliz e eliminar tudo o resto das nossas vidas. Para isso, viver devagar é essencial. E o que é isso de viver devagar? É simplesmente não nos impormos todas as tendências de moda do mundo, não inscrevermos os nosso filhos em todas as actividades possíveis e imaginárias, não sentir que necessitamos de ver aquele filme ou conhecer aquela banda para nos sentirmos completos. É literalmente reduzir a velocidade a que vivemos e não deixar que as imposições sociais, culturais, emocionais tomem conta das nossas vidas. É escolher fazer as coisas com um propósito, aceitar que não vamos conseguir estar em todos os sítios ao mesmo tempo, saborear o prazer que nos dão as pequenas coisas. Como dançar sem reservas numa Sexta-feira à noite.

Isto não significa que deixemos de querer o melhor para os nossos filhos, nem que subitamente desliguemos das actividades que sempre nos trouxeram felicidade e um sentido de pertença. Viver com um propósito, para mim, é simplesmente aceitar que o meu tempo, as minhas costas, a minha paciência têm limites. É deixar de me sentir culpada por não conseguir acompanhar todas as novidades no mundo da música e por ter de escolher melhor os livros que leio porque o tempo não estica. É, lentamente também, sentir a liberdade de não precisar de impressionar ninguém e a satisfação de gerir o meu tempo o melhor que uma vida profissional, dois filhos e uma casa permitem. E é mesmo dançar como se ninguém estivesse a ver...

2 comentários:

Dalma disse...

Marisa, este teu post é muito, muito didático, oxalá muitas mães o leiam e pensem sobre o que escreves.
Beijinhos daqui de um Alentejo, que embora com algum sol, está ainda muito frio!

ana cila disse...

Só li este post hoje e por várias razões chega n tempo certo. Primeiro, por causa dos podcast. Ando a tentar perceber desse assunto e identificar uns quantos para ouvir. (se quiseres deixar-me dicas no chat, agradeço)
E depois pelo slow living. Não te acreditas que tomei esta decisão ontem, depois de um meltdown descomunal no dia antes. Tomara conseguir essa coisa do slow....