setembro 27, 2015

Mágico, mil vezes mágico!


De lágrimas nos olhos, ele disse qualquer coisa como "É tão importante esta quietude, este silêncio para celebrarmos a música. Obrigado por estarmos juntos neste momento de introspecção." E eu continuei de lágrimas nos olhos, como desde a primeira canção. 

Muitas vezes precisamos de ser salvos de nós mesmos. Muitas vezes precisamos de ser ensinados a sublimar as nossas pequenas tragédias pessoais, de encontrar beleza mesmo nos momentos mais dolorosos. E esta beleza torna-se quase insuportável se o fizermos em comunhão, um bando de almas reunidos em torno de um ser místico, irreal mesmo que à nossa frente. Pedaços de passado a marchar, saudades do tempo em que tudo era fácil e novo e especial, a dor de se perder alguém. E ele sentado ao piano, ele de guitarra na mão e aquela voz a encher toda a sala. Os ecos da melancolia, do passar lento dos dias, as cabeças que de repente se voltam para trás. Tudo foi doçura e aceitação, tudo fez crescer o nó na garganta e era como se eu tivesse atravessado montanhas para estar finalmente ali. Sentada, sozinha, um desastre em potência que nunca se cumpriu. As lágrimas contidas, a pele de galinha aos primeiros acordes de cada canção, entregue ao fascínio sem sequer resistir.

Ele disse que a música expressa o que não conseguimos apenas a falar. Não há pressa nem mundo, são só as crianças a correr lá atrás ou o movimento constante das ondas, o desfiladeiro donde se escapa o calor. Há o silêncio dele entre canções, os olhos fechados a sentir tudo uma e outra vez, a plateia suspensa da última nota do piano para rebentar em aplausos. Eu estive lá e parecia que podia tocar-lhe, a essa imagem que vive escondida em memórias, à voz que nos abraça e diz que, afinal, está tudo bem. Está mesmo tudo bem, vai estar tudo bem - penso, enquanto ainda me sinto a flutuar entre sonho e emoção.


2 comentários:

MAG disse...

Adorei o texto! Quando sobrevivemos temos muito a aprender com as nossas tragédias!

M. disse...

Obrigada MAG :) Nesse aspecto, ele é realmente um sobrevivente e é isso que o torna tão bonito aos meus olhos :)