dezembro 10, 2014

(Ainda aqui estou...)

Os dias arrastam-se pelo lamaçal que têm deixado a chuva e a tímida neve que já caiu aqui pelo grão-ducado. De hoje exactamente a um mês, estarei livre das obrigações profissionais para me dedicar simplesmente a esperar que a nossa filha nasça mas o tempo parece que teima em abrandar e um mês ainda me parece uma eternidade.

O que me consola é que, ao contrário do ano passado, iremos a casa pelo Natal e pelo menos esse conforto já não nos tiram. Será a última viagem que farei antes da miúda nascer e depois dedicar-me-ei a ficar com os pés bem assentes na terra. Lembro-me de como me sentia por esta altura no ano passado: um pouco vazia e desanimada, obrigada a passar o primeiro Natal longe de casa. Há quem o faça com frequência ou até mesmo voluntariamente mas para mim foi um golpe difícil, só possível de aguentar porque estava de férias com os meus dois rapazes e acabámos por passar uns dias no quentinho da nossa casa, entre pijamas, presentes e filmes de bonecos, que o rapaz mais novo custa a entreter. Via toda a gente a preparar o seu Natal por aqui, via os portugueses a comprarem as caixas gigantes de bacalhau e a encherem os carros de vnho e licores portugueses e sentia-me ainda mais deprimida por nos faltar essa estrutura aqui: uma familia que fizesse valer a pena uns bons quilos de bacalhau e uma garrafeira cheia. Mas este ano não, este ano sinto o alívio de quem vai estar em casa nesta altura do ano. Não que eu dê muito valor à quadra religiosa - para mim, é simplesmente uma altura do ano para estarmos juntos e, desde há muitos anos, reencontrar amigos que não vemos com tanta frequência (amigos emigras e não-emigras, estamos lá!).

De resto, novidades que manterei discretas neste momento (o tempo ensinou-me que não devemos fazer foguetes antes da festa e que os poderes da inveja e maldicência são fortíssimos) vão fazer que este Natal seja exactamente só dos miúdos, já que nós temos muitas coisas em que pensar. Não sei se o timing para isto foi o melhor mas foi de certeza o único possível e tem ocupado as nossas cabeças em muitos momentos livres. Os presentes, esses, já estão confortavelmente à espera de serem entregues em Portugal, já que este ano decidimos comprar tudo online (para não carregar com eles quando formos de viagem e para pagarmos apenas os portes indispensáveis). Continuo a lamentar não ser daquela malta criativa, que faz os seus próprios presentes, embora tente (sempre que possível) dar aquele toque pessoal no que oferecemos.

E agora seguir-se-ão dias em que apenas distinguimos se é dia ou noite pelos relógios, já que parece que apenas existem duas alturas no dia: escuridão completa e anoitecer constante. Eu pergunto-me como é que a malta da Escandinávia consegue sobreviver a tanta noite seguida e com a palete de cores limitada ao cinzento. É a minha única maneira de colocar as coisas em perspectiva: lembrar-me que este Inverno não é nada comparado com outras latitudes e longitudes. Até agora tivemos uns dois dias em que nevou mas nunca o suficiente para manter um manto branco sobre o chão mais do que uma hora ou assim. Eu cá agradeço, é conhecido o meu desprezo pela neve (sim sim, é muito linda mas quem é que tem pachorra para andar sempre com medo de cair assim que põe o pé fora de casa, quem é que tem paciência para escovar bem o vidro do carro todas as santas manhãs umas cinco horas antes do Sol nascer, quem é que gosta de ter a casa cheia de pegadas fresquinhas? Eu não, claro está).

Se desse, o que eu faria agora era deitar-me para a sesta mais comprida de sempre e acordar apenas quando fosse hora de meter esta miúda cá fora. Já me chateio a mim mesma com as queixas das dores de ossos e de como me custa levantar de uma simples cadeira e de como as minhas articulações me têm dados maravilhosas noites de insónia. Mas não, diz que ainda há muito trabalhinho para fazer, muita roupa cor de rosa para lavar e abraçar já em antecipação, muitas escadas para subir e descer com gemidos de dor quase a cada degrau. Pelo menos, até ver, não sofro daquele inchaço terrível de estar grávida em pleno Verão. Deixa-me cá bater na madeira, entretanto!

2 comentários:

Dalma disse...

M.tudo, ou quase tudo tem duas faces, tal qual uma moeda! Acredita que se em vez de emigrada estivesses por aqui a ânsia do Natal não seria nada que se compare. Assim o teu/vosso Natal vai saber-vos muito melhor! Bjis

Helena Barreta disse...

O Natal assim tem mais encanto. Façam boa viagem.