dezembro 30, 2014

Adeuzinho 2014!


Nem quero acreditar que este ano já acabou! Parece que ainda ontem estava a programar a passagem de ano com os meus miúdos aqui em casa, a tratar das playlists e da pista de dança, a encher a mesa de petiscos e já estamos aqui outra vez.

Este ano foi... intenso, para dizer o mínimo. Com as novas responsabilidades profissionais seguiram-se os voos para visitar clientes e potenciais clientes (passei cento e quatro horas em aviões e percorri cerca de cinquenta e oito mil quilómetros, o que chegava para 1.45 circumnavegação da Terra...) e outros em passeio. Pude, finalmente, concretizar o meu sonho de pisar outro continente, ao mesmo tempo que visitava uma cidade do meu imaginário. Pude tomar banho nas fresquinhas águas portuguesas e também nas águas com temperaturas caribenhas. Em Ibiza, não vi mais do que o interior de um hotel e a vista a partir do aeroporto. Comi umas quantas tapas entre Madrid e Barcelona mas sozinha, o que lhes retirou algum encanto. Fui a Portugal mais vezes do que podia imaginar e por isso consegui atenuar as saudades de casa.

Vi-me num novo trabalho para o qual, entendi mais tarde, não estava realmente preparada. Mas creio que estive à altura do desafio e fui fazendo o melhor que podia e sabia, tentando, em silêncio e com muita observação, aprender com os outros. Muito do que sei hoje resulta dessa atenção e desse estudo meio dissimulado das atitudes que são esperadas neste meio. Ainda tenho um longo caminho pela frente, que nem sequer sei se quero percorrer. Foi o ano das piores dúvidas da minha vida: perguntei-me muitas, muitas vezes o que fazemos nós aqui. Posso dizer que foram meses de total angústia, a pensar que nada disto tem sentido, a querer fugir a pessoas e a responsabilidades sem nunca o conseguir inteiramente, a pôr em causa todas as minhas decisões, a minha vocação, até o meu instinto maternal. Chorei muito, durante esse período, e pensei que podia ter entrado em depressão. Felizmente, tive a mão de sempre à minha espera para me ajudar a levantar e ver para além das... hormonas!

Entendi depois que a pior parte das minhas dúvidas chegou ao mesmo tempo da notícia por que tanto esperávamos: vinha aí mais um bebé! Muita da minha angústia se pode explicar com essa fase inicial da gravidez, onde tudo me parecia aterrorizador e onde eu me sentia completamente perdida, sem saber o que queria ou como deveria mudar. Já o disse antes: foi um ano e meio a tentar ter este bebé, à procura de razões para esta demora, à procura de respostas que não precisava - apenas precisava de descansar e deixar as coisas acontecerem naturalmente. Depois seguiram-se os meses de dúvida (será que a gravidez aguenta? Será que o bebé está vivo? Será que está inteiro e são?) que finalmente se dissipou. Apesar de me sentir muito mais tranquila agora, a verdade é que as semanas de enjoos e náuseas constantes e agora os dois últimos meses de dores nos ossos não me têm propriamente ajudado a gozar tudo como queria. Eu brinco a dizer que é da idade mas não sei, se calhar é mesmo e o corpo começa a dar os primeiros sinais de que necessita abrandar.

Acabo este ano a agradecer a família que me calhou em sorte e a família que escolhi. Os que estão longe tudo fazem para minimizar esta distância e estão sempre disponíveis para nos ouvir; os que tenho ao meu lado são realmente a melhor coisa que me aconteceu: um amor que nunca desertou, mesmo depois de tanto disparate e tanta crise hormonal, sempre pronto a ouvir-me e a abrir-me os braços, mesmo que às vezes precise de ser lembrado que esses abraços fazem falta; um filho que se tem tornado numa criança mais sociável, que amadurece e ainda luta para deixar as birras, que gosta muito dos outros, que é sensível e preocupado, que me fala em Português, Francês e Luxemburguês, que gosta de mim com tanta força que às vezes preciso de o afastar. E agora uma filha, uma menina para aumentar a família e encher ainda mais a nossa casa de gritaria, choro e amor.

Em 2014 passei mais tempo sozinha e isso fazia-me falta, consegui fazer mais coisas de que gosto (ler vinte e cinco dos trinta livros que tinha previsto já me parece uma vitória), só me faltou um bocadinho mais de Sol e de céu azul. Para o ano que aí vem só peço muita paciência e muita calma para o momento em que passarmos a ser quatro. Peço clareza de ideias e confiança no meu instinto maternal - afinal, já temos um filho de quatro anos, portanto alguma coisa fizemos bem! E espero poder resolver o emaranhado de ideias que me assombra as decisões profissionais, ao mesmo tempo em que encontro o tempo para mim no meio das três outras cabeças cá de casa. E para vocês, o que ainda vêm aqui ler-me, desejo um ano memorável, em que possam viver com muita tranquilidade e prosperidade, mesmo que isso signifique diferentes coisas para diferentes pessoas. Que não tenham que viver na incerteza e que encontrem sempre forças para lutar pelo que desejam. Para o ano há mais!

dezembro 18, 2014

Reconhecimento


Eu sei, eu sei: nos últimos meses, não andei muito feliz a nível profissional, o que me fez questionar muitas coisas, em especial o meu percurso futuro. Quando pensava que já tinha encontrado uma resposta, aconteceu-me uma coisinha chamada Amália e digamos que todos os planos (ou esboços de planos) que tinha na cabeça foram necessariamente colocados de lado. Não custou muito, aceitei a mudança tranquilamente, afinal é por uma boa causa.

Mas é preciso ser clara: o meu desalento não foi causado directamente pelo sítio onde trabalho mas sim pelas expectativas e planos que eu mesmo tenho vindo a criar para mim. É apenas um reflexo de alguns anos de trabalho em áreas em que nunca me imaginei ou em que sou, na prática, forçada a aprender tudo de raíz e em que a natureza das actividades não podia estar mais longe da minha personalidade. Isto partindo do princípio de que sei exactamente do que falo... Ainda não fui capaz de verbalizar o que gostava exactamente de fazer mas sei duas coisas: gostava que envolvesse uma parte criativa e de alguma liberdade e também que me fizesse sentir que o meu trabalho é importante e que posso ajudar outras pessoas com ele. Não está fácil, eu sei, porque isto pode ser muita coisa. E bem, com o tipo de qualificações que tenho ou fui adquirindo, o mais fácil é ser engolida por qualquer monstro capitalista que tenha sede no Luxemburgo do que fazer qualquer coisa que valha mesmo a pena.

Isto tudo para dizer que me sinto grata por trabalhar na minha empresa, mesmo com todas as dúvidas e hesitações idealistas que me assaltam às vezes. Para mim, continua a ser muito difícil a batalha entre fazer o que é preciso para viver e (tentar) fazer aquilo que me faz feliz, sendo que a primeira hipótese ganha sempre. Cada dia, cada mês ou ano que passsa, fica ainda mais complicado renunciar à estabilidade e conforto que é ter um emprego fixo, com oportunidades de desenvolvimento e desafios constantes e agarrar o desconhecido - é cobardia, eu também sei. E com todos os seus defeitos e com todas as decisões com as quais não concordo ou com todas as mudanças um pouco assustadoras porque temos passado este ano, preciso dizer que mesmo assim é bom trabalhar numa empresa sólida, com planos para o futuro e com uma cultura empresarial em pleno desenvolvimento. Algumas vezes, um pouco cega com os pequenos problemas do dia a dia, esqueço-me dos esforços e dos investimentos que se fazem nos funcionários. Noutras vezes, em que tenho mais tempo para apreciar verdadeiramente a estrutura que me rodeia, sinto orgulho por fazer parte desta organização bem oleada e gerida à boa maneira suiça.

Gostava poder ser mais constante e, algum dia, sentir que estou finalmente no sítio que sempre me tinha esperado. Talvez isso não seja realista - no próximo ano, não será com toda a certeza, embora vá estar no melhor sítio possível, que é a cuidar da minha filha. Até que encontre essa paz de espírito, agradeço o que tenho vindo a conquistar, assimilando as partes boas e más da experiência, consciente de que o mundo é um pañuelo, já dizem os espanhóis, e que é preciso deixar sempre a melhor impressão possível. Uma pessoa lá sai preparada para isto duma universidade... Aprender a trabalhar e a conduzir são actividades exactamente no mesmo plano: a teoria é muito linda mas só quando somos obrigados a meter as mãos na massa ou a fazer aquele ponto de embraiagem é que vemos como elas são. Para já, não tenho conduzido muito mal.

dezembro 10, 2014

(Ainda aqui estou...)

Os dias arrastam-se pelo lamaçal que têm deixado a chuva e a tímida neve que já caiu aqui pelo grão-ducado. De hoje exactamente a um mês, estarei livre das obrigações profissionais para me dedicar simplesmente a esperar que a nossa filha nasça mas o tempo parece que teima em abrandar e um mês ainda me parece uma eternidade.

O que me consola é que, ao contrário do ano passado, iremos a casa pelo Natal e pelo menos esse conforto já não nos tiram. Será a última viagem que farei antes da miúda nascer e depois dedicar-me-ei a ficar com os pés bem assentes na terra. Lembro-me de como me sentia por esta altura no ano passado: um pouco vazia e desanimada, obrigada a passar o primeiro Natal longe de casa. Há quem o faça com frequência ou até mesmo voluntariamente mas para mim foi um golpe difícil, só possível de aguentar porque estava de férias com os meus dois rapazes e acabámos por passar uns dias no quentinho da nossa casa, entre pijamas, presentes e filmes de bonecos, que o rapaz mais novo custa a entreter. Via toda a gente a preparar o seu Natal por aqui, via os portugueses a comprarem as caixas gigantes de bacalhau e a encherem os carros de vnho e licores portugueses e sentia-me ainda mais deprimida por nos faltar essa estrutura aqui: uma familia que fizesse valer a pena uns bons quilos de bacalhau e uma garrafeira cheia. Mas este ano não, este ano sinto o alívio de quem vai estar em casa nesta altura do ano. Não que eu dê muito valor à quadra religiosa - para mim, é simplesmente uma altura do ano para estarmos juntos e, desde há muitos anos, reencontrar amigos que não vemos com tanta frequência (amigos emigras e não-emigras, estamos lá!).

De resto, novidades que manterei discretas neste momento (o tempo ensinou-me que não devemos fazer foguetes antes da festa e que os poderes da inveja e maldicência são fortíssimos) vão fazer que este Natal seja exactamente só dos miúdos, já que nós temos muitas coisas em que pensar. Não sei se o timing para isto foi o melhor mas foi de certeza o único possível e tem ocupado as nossas cabeças em muitos momentos livres. Os presentes, esses, já estão confortavelmente à espera de serem entregues em Portugal, já que este ano decidimos comprar tudo online (para não carregar com eles quando formos de viagem e para pagarmos apenas os portes indispensáveis). Continuo a lamentar não ser daquela malta criativa, que faz os seus próprios presentes, embora tente (sempre que possível) dar aquele toque pessoal no que oferecemos.

E agora seguir-se-ão dias em que apenas distinguimos se é dia ou noite pelos relógios, já que parece que apenas existem duas alturas no dia: escuridão completa e anoitecer constante. Eu pergunto-me como é que a malta da Escandinávia consegue sobreviver a tanta noite seguida e com a palete de cores limitada ao cinzento. É a minha única maneira de colocar as coisas em perspectiva: lembrar-me que este Inverno não é nada comparado com outras latitudes e longitudes. Até agora tivemos uns dois dias em que nevou mas nunca o suficiente para manter um manto branco sobre o chão mais do que uma hora ou assim. Eu cá agradeço, é conhecido o meu desprezo pela neve (sim sim, é muito linda mas quem é que tem pachorra para andar sempre com medo de cair assim que põe o pé fora de casa, quem é que tem paciência para escovar bem o vidro do carro todas as santas manhãs umas cinco horas antes do Sol nascer, quem é que gosta de ter a casa cheia de pegadas fresquinhas? Eu não, claro está).

Se desse, o que eu faria agora era deitar-me para a sesta mais comprida de sempre e acordar apenas quando fosse hora de meter esta miúda cá fora. Já me chateio a mim mesma com as queixas das dores de ossos e de como me custa levantar de uma simples cadeira e de como as minhas articulações me têm dados maravilhosas noites de insónia. Mas não, diz que ainda há muito trabalhinho para fazer, muita roupa cor de rosa para lavar e abraçar já em antecipação, muitas escadas para subir e descer com gemidos de dor quase a cada degrau. Pelo menos, até ver, não sofro daquele inchaço terrível de estar grávida em pleno Verão. Deixa-me cá bater na madeira, entretanto!