abril 11, 2014

Sobre técnicas de venda e meias de ligas

Quero começar este post com um disclaimer: não tenho qualquer formação na área comercial mas confio na minha capacidade de julgar e adaptar-me às situações, bem como no meu bom senso.
 
Numa das primeiras viagens que fiz, vi-me acompanhada por uma colega de outro escritório com um estilo um pouco peculiar. Eu estava habituada à pessoa que fui substituir, uma mulher bonita, profissional mas muito, muito discreta. No dia em que conheci a pessoa de que agora falo, apanhei um grande choque: independente de todas as suas outras características, esta mulher usava roupa que (eu considero) demasiado provocante e pouco profissional para quem tem que andar de direcção financeira em direcção financeira. Podem perguntar-me Epá oh Marisa, não estás a ser um bocadinho púdica demais? e eu digo já que não: sou defensora da máxima o que é bom é para se ver mas, voilá, na ocasião apropriada. E com classe, devo acrescentar.
 
Então íamos na rua, de visita em visita e homens e miúdos paravam a vê-la - decote bem pronunciado, meias de ligas bem visíveis debaixo da saia. Até aí tudo bem - a ocasião não o proibia, a rapariga tem bons argumentos. Mas depois vinham as ditas visitas e os clientes ficavam entre o visivelmente incomodados e o naturalmente agradados e eu a ver tudo como no cinema. Na altura, discuti com a pessoa que fui substituir se estas escolhar arrojadas seriam ou não propositadas: ela dizia-me que não, que a nossa colega nem pensava nisso, que não via nada de intencional. E eu fiquei a sentir-me mal porque parecia que estava a ser injusta com essa nova colega. Decidi dar-lhe outra oportunidade quando esta se apresentasse.
 
E bem, não me tinha enganado. A imagem numa das últimas viagens foi igualmente arrojada, demasiado in your face com os argumentos dela e eu, mais uma vez, a sentir-me a palhaça sem atrevimento por onde passávamos. Mas o auge da coisa foi quando ela me disse, textualmente, que se soubesse que íamos visitar uma directora, não teria usado o decote que tinha nesse dia - a coisa era, como esperava, intencional.
 
Independentemente dos resultados que ela pensa conseguir, eu vejo-me de repente metida nesse enorme cliché, que é o da mulher que aproveita os seus argumentos físicos para desviar a atenção dos homens. Eu pensava, a sério, que isto era uma coisa dos anos 80, dos 90, vá, mas vai-se a ver e ainda faz sentido nalgumas cabeças. Atenção que eu não pretendo que as mulheres trabalhem tapadas dos pés à cabeça mas continuo a achar que um pouco de decoro e sentido de oportunidade não ficam mal a ninguém. E mais: às tantas já não sei se sou eu que estou a ser machista ou se é ela que está a contribuir para perpetuar essa visão do mundo. A única maneira que tenho de avaliar isto é pondo-me no lugar de cliente e imaginar qual seria a minha reacção mas como sou mulher o mais natural é que me acusem de inveja. Até podia ser, se pensar apenas nos seus pontos fortes (definitivamente da cabeça para baixo). Mas não consigo desligar esta avaliação do seu lado profissional e da imagem que dá do trabalho que também eu faço. E bom, nesse aspecto acho que a clássica calça preta continua a bater em pontos de profissionalismo o decote e a meia de liga. É uma luta desleal mas não é preciso vencedores - apenas agir de acordo com a consciência.

2 comentários:

Dalma disse...

Marisa, como achei piada ao teu post! Pois tu sempre foste muito discreta e por isso imagino como te custará tal companhia! Não disseste nada sobre ela "do pescoço para cima" e eu estou curiosa! Responde-me lá, que a dita senhora não lê o teu blog.

M. disse...

Professora Dalma, não queria entrar em pormenores para não ser deselegante. Digamos que não encaixa nos meus padrões de beleza feminina e que tem um formato de cara a atirar para o masculino. E mais não digo :)