fevereiro 12, 2013

[piscando o olho ao regresso]

Estas últimas duas semanas têm sido chatas mas chatas. Não têm havido tempo para corridas porque eu estou doente ou saio demasiado tarde ou tenho um filho doente. Os dias já se notam mais compridos mas só quando o céu não está extraordinariamente carregado e cor de chumbo. Houve um dia então em que o céu tocou literalmente na terra, ficou tudo escuro numa questão de segundos e em dois ou três minutos tudo estava coberto de um generoso manto de neve. É que a neve é bonita, sim, mas só naqueles sítios onde permanece pura e intocada, onde não se transforma em lama ou perigosas camadas de gelo e se mantém assim até derreter.

Esta semana a minha irmã emigrou e agora vive em Londres. É fácil entender a revolta dos meus pais com o nosso país e também a sua desilusão com todo o investimento que fizeram na nossa educação. É claro que a distância foi crescendo de há dezassete anos para cá, no dia em que me deixaram sozinha na rua Sabino de Sousa, fazendo força para não olhar para trás. E depois, quando entregaram também a minha irmã a Lisboa e alugámos a casa de bonecas na vila Grandella. Mas agora a distância é quase insuportavelmente gigante e é bom de ver que não são sessões semanais de Skype que podem eliminar as saudades. Os meus pais ficaram sem as suas filhas (e neto) no espaço de um ano e eu sei que isso deve doer. Mas, e sabendo que é pouco o consolo, ganharam pelo menos duas filhas que resolveram fazer pela vida em vez de se ficarem a lamentar em Portugal ou a depender deles depois dos trinta anos. Quando falo sobre o tempo que faz em Lisboa aos meus colegas aqui, há um que me diz sempre que não podemos ter tudo e é absolutamente verdade. Resta-nos lutar por outra vida, mesmo longe, mesmo sem garantias e saber que, mesmo falhando, estivemos cá e tentámos fazer tudo funcionar. Eu conheço bem a minha irmã e sei que ela há-de vencer por lá, de uma maneira ou outra. Vontade de trabalhar não lhe falta e sobra-lhe a simpatia e à-vontade que eu nunca tive. Enquanto assim for, enquanto se tiver vontade de arregaçar as mangas, a vida há-de andar para a frente. E vamos encurtando as distâncias como podemos.

E ainda me apetecia falar da minha colega de equipa mas acho que não vou fazê-lo. Há uma coisa que eu tenho tentado fazer nos últimos anos que é tentar ser uma pessoa melhor, conter-me nas críticas, cingir-me à realidade e aos factos, procurar não ser injusta. Mas esta pessoa faz-me pensar em duas coisas, a saber que a) não estou a tentar o suficiente e b) há pessoas que nem sequer merecem estes esforços. A verdade é que já tentei gostar dela, entender o que a leva a ser assim mas não consigo e apenas tento manter a relação profissional tão cordial quanto possível. Só receio que este esforço continuado em não me exaltar, esta convivência forçada e artificial não me faça explodir um dias destes. É que eu tenho cá a minha ética profissional mas há limites para a preguiça, irresponsabilidade, incompetência e estupidez que eu consigo aguentar. Trabalhar sozinha é que era mas infelizmente enfio-me sempre em sítios onde o trabalho de equipa é que é bom.(E com isto tudo, sem querer falar, já falei).

E agora já me faziam um favor e acabavam com tosses, aftas, ranhos e horas de espera em hospitais, faltas de paciência e vómitos, neves, temperaturas negativas e pessoas detestáveis. Só me apetece dormir e acordar no pico do Verão.

2 comentários:

Dalma disse...

Minha querida, como te sinto desgostosa! mas não é que te compreendo tão bem! Mas que fazeres se não chamares a ti todas as forças e pensares que têm ambos um emprego e que não dependem dos pais! Há, infelizmente tantos da vossa idade a quem isso lhes acontece... a Patrícia estou certa que vencerá.
Não sei se deste porque passei uma semana em Londres e vim com a impressão de que está uma cidade dinâmica e com muitas oportunidades de emprego.
Beijinhos da tua professora

Helena Barreta disse...

Que tudo corra bem com a sua irmã.

Um abraço