abril 04, 2012

The terrible two

Agora que tenho demasiado muito tempo livre, e uma vez que estou novamente com o Vicente 24h por dia, tenho pensado muito nesta coisa da parentalidade positiva. Eu sou muito impulsiva e uma pessoa de emoções muito fortes e isso, combinado com um filho que adora uma boa birra, uma boa gritaria no posto dos correios ou num simples regresso a casa, não pode dar muito bom resultado. A verdade é que ele é um mini tornado, desarrumando tudo à sua passagem, mexendo em todos os sítios proibidos, gritando sempre que não lhe fazemos a vontade mas termina estes acessos temperamentais com um gigante abraço, dando-nos palmadinhas nas costas como sinal de afecto.

Tenho lido alguns artigos sobre esta fase e sobre esta dura provação: ele quer testar os nossos limites mas não sabe ainda lidar com a sua frustração; ele está a pedir-nos disciplina mas quer tudo feito à maneira dele; ele está a crescer e a dar-nos cabo do juízo! Às vezes, até as tarefas mais simples (como a mudança de fralda) são justificação para uma birra monumental, um pequeno homenzinho contorcendo-se em cima do fraldário, gritando como se estivesse a ser alvo da pior tortura. Muitas vezes, pergunto-me o que é que os vizinhos (que mal nos conhecem e que não acompanharam o primeiro ano do Vicente) pensarão das gritarias que se ouvem nesta casa e chego a ter medo que reportem isto como maus tratos! Se o sentamos na cadeira por uns minutos que nos permitam arrumar a casa ou fazer o jantar, grita quase até lhe faltar a voz e dou com ele esganiçado e vermelho da força que faz. Como já domina a marcha, andar com ele no carrinho é um castigo e um tormento ver como se contorce para se libertar. Mas enfim, uma pessoa vai-se esquecendo das coisas com os abraços que já distribui voluntariamente, com os barulhinhos de satisfação que faz quando encosta a cara ao nosso ombro, com a maneira fofa como aceita a nossa mão para ir a qualquer lado ou com as suas expressões/palavras mais perceptíveis: banana e já tá.

Ler sobre as birras ainda não me levou onde eu gostaria de estar, obviamente. Tenho tentado seguir algumas recomendações positivas para ajudar o Vicente a superar estes acessos de frustração mas nem sempre as estratégias resultam. Uma das melhores opções é envolvê-lo nas actividades ou participar nas brincadeiras dele mas são duas coisas que não resolvem a questão dos sítios públicos, cheios de gente vs. um Vicente que não quer estar preso na cadeira e que por sua vontade correria, apertando a mão a quem se cruzasse com ele. E às vezes também é difícil pensar que os pequenos acessos de raiva não são nada de pessoal contra nós mas apenas expressões visíveis dessa frustração de ainda não se dominar o Mundo nem o corpo nem as vontades. Tudo isto é obra mas o verdadeiro esforço é pensar que tudo não passa de uma fase importantíssima para a criação da independência e da autonomia dele. E o melhor é continuar a sair da sala, respirar fundo umas cinco vezes e voltar, esperando que ele já não tenha vontade de espernear.

4 comentários:

Helena Barreta disse...

Posso dar-lhe o meu testemunho e dizer-lhe que, quanto a mim, faz muito bem em ser disciplinadora, o Vicente "estica a corda" para ver se dá, testa os limites do que o autorizam ou não a fazer, por isso acho importante criar esses limites, ele sabe que os pais é que mandam, mas tenta.

Em locais públicos o que eu fazia era ignorar as birras, conversar calmamente e desviar a atenção para alguma coisa que o distraísse e nunca, mas nunca mesmo, ceder à chantagem e para que isso resultasse também eu não fazia chantagem com ele. Havia coisas em que era condescendente e não o ameaçava com castigos sem que conseguisse cumpri-los.

Vai correr tudo bem, quanto a mim, o que seria estranho era se o Vicente não fizesse birras e se aceitasse, na maior, todos os nãos dos pais, ele vai chegar lá, mas entretanto...

Um beijinho especial ao cachopinho de olhos lindos.

|b| disse...

A nossa estratégia é: estabelecer regras para tudo com penas muito claras caso sejam desrespeitadas. Aplicar as penas sempre e de forma muito assertiva e calma. Nunca perder um braço de ferro. Uma palmada forte e cirúrgica vale por 20 palmadas pequeninas e por 100h de brigas.

No Lucas essa fase durou cerca de um mês ou dois. Passou rápido.

Dalma disse...

Marisa, estou 100% de acordo com as duas comentadoras anteriores. Nunca dizer SIM ao solicitado para resolver o conflito, nem NÃO sem ter a certeza de poder cumprir. Fiz assim com os meus três filhos e com os meus alunos mais rebeldes. Acredita que resulta.
Como diz a HB, quando estamos em público é agir como se não fosse o nosso filho que está a fazer birra, logo eles ficam sem vontade de nos impressionar.
Com o tempo tudo se ajeita se não cedermos à "chantagem" que é a birra.
Beijinhos da tua professora que te deseja uma Boa Páscoa

p.s. não encontrarás aí com certeza um lagartinho de ovo na boca mas talvez encontres um um folar de 4ovos!!

Dalma disse...

Marisa estou 100% de acordo com as duas comentadoras anteriores. Nunca dizer SIM ao solicitado para resolver o conflito, nem NÃO sem ter a certeza de poder cumprir. Fiz assim com os meus três filhos e com os meus alunos mais rebeldes. Acredita que resulta.
Como diz a HB, quando estamos em público é agir como se não fosse o nosso filho que está a fazer birra, logo eles ficam sem vontade de nos impressionar.
Com o tempo tudo se ajeita se não cedermos à "chantagem" que é a birra.
Beijinhos da tua professora que te deseja uma Boa Páscoa

p.s. não encontrarás aí com certeza um lagartinho de ovo na boca mas talvez encontres um um folar de 4ovos!!