outubro 30, 2011

Indian summer




Hoje foi dia de aproveitar mais um belíssimo dia de Sol, desta feita no quintal de amigos. Umas horas bem passadas assando castanhas, brincando com os pequenos, picando miniaturas de pastelaria e compotas caseiras, tentando habituar o corpo à hora de Inverno, acompanhando o petisco com capilé. Depois de amanhã é Novembro, o bebé Vicente ainda não pode pedir os Santinhos e parece que eu já não chego a fazer anos de manga curta. Já tenho as prendas de Natal pensadas e saudades do bolo de milho da minha avó. É importante permitirmo-nos uma pausa na confusão dos dias e apenas estar. Amanhã o mundo está de volta.

outubro 29, 2011

Sábado de manhã



Acordar cedo, depois de uma noite até bem dormida. Tratar da casa ainda debaixo do silêncio. Levantar as cortinas para aproveitar o Sol de Outono. Café na vizinha e passeio rumo a campo de Ourique. Tratar da fruta para a semana com a senhora da fruta a oferecer uma banana ao bebé Vicente. Procurar peixe fresco para o almoço de Sábado. Bebé vomita frente à banca do peixe, pedir papel e toalhitas emprestadas às peixeiras. Ah a vida de mãe, a palavra monotonia desaparece imediatamente do dicionário

outubro 26, 2011

State of the art

Nos últimos meses, temos tido tanto mas tanto azar com tudo que começo a achar que não é apenas uma fase mas um novo modo de vida.

(é um post curto porque não me apetece desenrolar a lista de pequenas desgraças que vêm acontecendo todos os dias, doenças breves e mal curadas, falta de protecção social, avarias temporárias e permanentes, falta de esperança e de optimismo, surpresas sempre desagradáveis, algumas despesas crescentes e outras inesperadas, noites mal dormidas e madrugadas cada vez mais turbulentas, um certo mal estar que se vai instalando como quem não quer a coisa. Sabemos tão bem que a olhar em frente é que se faz o caminho mas um dia não são dias e este tempo invernoso se calhar não veio ajudar. Haja fôlego, é o que (me) peço.)

outubro 18, 2011

Run M. run!


Encontrámos finalmente a solução para voltarmos ao exercício físico sem mais demoras ou desculpas: levamos o bebé Vicente conosco e corremos à vez! É claro que é uma situação temporária - parece que os dias mais frios estão aí a chegar e o bebé não poderá estar sujeito a intempéries - mas já é o empurrão de que precisávamos. Foi muito duro voltar a correr: sinto-me literalmente muito pesada e isso também contribui directamente para as minhas capacidades respiratórias. Já deu para suar q.b. e ficar vermelha que nem um tomate. Também é verdade que o tempo ainda quente não ajuda a respirar mas enfim, há-de melhorar.

Sair às 16h tem sido uma verdadeira benção: claro que acordar e ser noite cerrada custa e os finais do dia são muitas vezes em modo zombie mas tenho aproveitado muito melhor o tempo e estou cada vez mais organizada. Como o Euromilhões tá difícil de nos sair, o melhor mesmo é aproveitar as benesses que temos e trocar as voltas à crise. Afinal, nós estamos de pedra e cal e ela há-de passar...

outubro 17, 2011

Tentar viver melhor


Enquanto a coragem não é suficiente para deixar a cidade para trás e procurar uma vida mais calma, longe do reboliço mas não do Mundo, e face também à brutalidade da situação económica em que nos encontramos agora, temos tentado encontrar soluções para não só gastar menos dinheiro mas também fazermos algo por nós e pelos outros.

Seguindo o exemplo de amigos, compramos agora um cabaz semanal de produtos frescos a uma rapariga que os traz directamente de Montemor-o-Novo para quem os quiser encomendar. Não gastamos mais dinheiro em legumes vindos de fora de Portugal e temos quase a certeza de estarmos a comprar produtos sem grandes tratamentos artificiais. Estimulamos a (pequena) produção nacional, ao mesmo tempo que asseguramos que o Vicente come sopa com os melhores ingredientes. E há ainda um desafio adicional: como nunca sabemos o que vai trazer o cabaz e vêm muitas vezes ingredientes que nunca usámos, é empolgante imaginar o que vamos cozinhar a seguir.

(Esta coisa da crise está a tomar proporções assustadoras cá em casa e nem sequer somos funcionários públicos. Se me dissessem há uns dois ou três anos que estaríamos aqui hoje, diria que era impossível mas a verdade é que cada vez mais estamos a sobreviver em vez da vida simpática que tínhamos antes. Não é fácil não desanimar, acreditem, e muitas vezes nem o facto de termos um bebezão em pleno crescimento e tão sociável nos ajuda. Haja força para que tanto negativismo não dê cabo de nós).

outubro 11, 2011

What's the story morning glory?

Agora já é noite cerrada. Ainda são raras as vezes em que me lembro de ligar as luzes assim que também ligo o carro e não é estranho arrancar ainda camuflada pelo manto escuro da noite. A hora ainda está para mudar e por isso parece que a noite só ainda está a começar. Não há carros, não se ouvem passos senão os meus na calçada deste Verão tardio, frente às montras em pausa, esperando que o dia comece finalmente. Não me cruzo com outros condutores, a não ser talvez as carrinhas do pão ou da distribuição de jornais e às vezes sinto que me perguntam o que faço eu a pé a esta hora. Desci hoje para a A5 bem depressa mas antes parei para tentar captar a enorme lua cheia que se via atrás de Monsanto. Nada feito. Os vidros do carro e as doentias luzes amarelas, companheiras de insónia e madrugadores, evitaram que imortalizasse uma gigante bolacha no céu. Subo a alguma velocidade, ainda não há quase trânsito no sentido em que conduzo e a fila no sentido contrário está ainda longe também. Na rádio ninguém fala, as músicas sucedem-se suavemente no éter e a lua espreita entre blocos de apartamentos ainda em silêncio. Da auto-estrada vejo os open spaces vazios, de luzes brancas à espera da ordem para cessarem funções, aguardando os seus moradores que chegarão como formigas num carreiro. Estaciono em frente ao cemitério, como sempre, mas ao contrário de alguns dias à tarde, não sinto qualquer calafrio. Atravesso um andar inteiro de escritórios à escuras, como se aquele tivesse sido sempre o meu posto de trabalho. A máquina do café está desligada e eu, descubro mais tarde, fui incapaz de descobrir o botão on/off mesmo debaixo do meu nariz. São 6:53 e eu precisava de algum café, penso. Abro a janela, esperando passar despercebida, para ver o Sol a nascer. Chega a manhã, tenho Lisboa nas costas e o mundo de pequenos problemas com que me deitei ontem parece ter ficado algures pelo caminho. Há silêncio e a oportunidade de respirar bem fundo - descobri há pouco tempo que sou uma pessoa da manhã.

outubro 05, 2011

Construir uma memória



Com um ano de idade e já com tanta tralha espalhada entre três casas diferentes, o bebé Vicente já tinha brinquedos e roupa mais do que suficientes. Colocava-se, então, a questão: o que oferecer-lhe de prenda de anos? Já tínhamos decidido que ele tinha tudo o que precisava e chegado à conclusão que ainda não retira qualquer prazer de desembrulhar presentes, por isso o nosso seria apenas mais um.

Foi por isso que, quase inconscientemente, comecei o diário dele. Não a versão online, que guardamos com algumas cartas e fotografias actuais, mas a versão papel. O pai do Vicente ofereceu-me o suporte (que é este) e eu tenho tratado de o preencher com a matéria prima: as minhas recordações. Tem sido empolgante escrever, colar fotografias e, acima de tudo, recordar estes primeiros meses do Vicente! Já escrevi sobre a gravidez, sobre o parto, sobre os pequenos prazeres e indulgências de quem carrega um bebé, sobre a comida e ocasiões especiais. Gostava que ele um dia considerasse este pedacinho da sua história como algo especial, precioso e que pudesse depois imaginar como foi uma alegria para nós desde o primeiro momento saber que ele existia! É uma memória que guardaremos connosco até ele ser capaz de a apreciar e dá muito, muito gozo a construir :)