setembro 15, 2011

Never (ever) look back

Hoje, a propósito de já não sei bem o quê, lembrei-me que já passou mais de um ano desde que fui despedida pela primeira vez (e última, que a crise ainda não foi tão longe). Pensei que este fosse um marco do qual me viesse a lembrar, afinal foi um processo demasiado difícil de digerir. Mas nada: nem uma pontinha de tristeza, nem uma recordação melancólica no dia trinta e um de Julho, nem uma saudadezinha a bater no peito.

É claro que me lembro das pessoas com quem passava a maior parte das horas do meu dia mas também é verdade que vou sempre sabendo das pessoas que me interessam e com quem criei maiores laços, algumas das quais se vêem hoje a braços com a mesma situação em condições ainda mais desesperantes. O dia passou sem que me lembrasse que há um ano, depois de quatro anos de trabalho e esforço, me convidavam a sair porque já não servia mais à empresa. Também não me lembrei dos dias que levei a arrumar a minha tralha, da sensação de tranquilidade de saber que ia poder viver tranquila os últimos meses da gravidez, agora longe dos colegas de trabalho que tanto me mimaram a barriguinha. E há doze meses atrás fechei a porta atrás de mim com uma barriga considerável, em pleno pico do Verão, com um estranha sensação de liberdade triste e não totalmente merecida mas também com uma disposição extremamente optimista. E este ano nem me apercebi que comemorava esse primeiro aniversário, provavelmente o único de que me iria lembrar.

Hoje, a palavra efectividade passou a valer zero para mim. Vivo os meus dias concentrada em combinar os meus resultados pessoais com aqueles que são esperados da equipa, sem sentir a pressão de ter que demonstrar esses resultados. Entendo que a desastrosa conjuntura económica em que vivemos domina tudo o que se passa nos bastidores de uma empresa e que, resultado das exigências dos mercados, o rumo das coisas pode mudar abruptamente. Acho que vejo mais longe, falo menos, tolero mais porque compreendo que progredir não é só produzir muito: é pensar o nosso trabalho, melhorá-lo, direccioná-lo para um bem maior, tentando não comprometer princípios pelo caminho. Hoje gosto menos de trabalhar em equipa apenas porque não me sinto em sintonia com muitas perspectivas de vida e com outras posturas face ao mesmo trabalho mas, simultaneamente, gosto de fazer parte do todo.

Eu gosto de trabalhar mas não sei explicar o que isso quer dizer na minha língua e muitas vezes sinto que há quem me goze por achar que devo isso à empresa que todos os meses me põe a comida na mesa. Gosto de trabalhar mas ainda me falta a coragem e os planos para fazer alguma coisa que me preencha verdadeiramente, um trabalho guiado pelas minhas paixões e idealismo. Mas todos os dias são novos dias e às vezes sinto-me estúpida por me sentir feliz quando saio de casa pela manhã a caminho do escritório. Sei que me vou chatear durante o dia e provavelmente chegar cansada mas, contas feitas, saio sempre a ganhar.

1 comentário:

Helena Barreta disse...

Partilho do seu sentimento perante o trabalho e por quem confia em nós e nos paga o ordenado.

Continuo a achar que nos devemos entregar ao que fazemos, fazendo e dando o melhor que sabemos e de nós, sem abdicar do que somos.

Um beijinho