março 29, 2011

Caramba, já são seis!

É mesmo verdade, faz hoje seis meses que o bebé Vicente veio ao Mundo. Seis longos meses de muito choro, cólicas mas também do sorriso desdentado mais lindo do Mundo, de braços e pernas sempre em acção e de um amor maior do que o nosso coração. Por esta hora, há seis meses, estava já deitada e anestesiada na cama do hospital, incrédula com a rapidez com que tudo se estava a passar à minha volta. Não tinha medo, na verdade. Sentia apenas a expectativa a crescer como uma onda, a avolumar-se dentro do peito, sem saber como iria ser Mãe dali a umas horas.

Nestes últimos meses, duvidei milhentas vezes das minhas capacidades e da minha capacidade de resistência e desesperei muitas vezes sem saber o que fazer. Mas, apercebi-me nestes últimos dias que me tornei numa mãe menos ansiosa e mais racional. Já aceitei as alterações permanentes do meu sono, tornei-me especialista em sopas sem sal e sou a melhor da minha casa a inventar canções para o bebé Vicente. Ontem fiquei assustada com o tamanho dele: está grande e quase já não cabe na espreguiçadeira. Agora, o bebé Vicente chora muito menos, quase já adormece sozinho mas ainda não dorme a noite toda. Gosta de comer, especialmente a fruta, porque às vezes ainda franze a sobrancelha à sopa. Continua a gostar de leite acima de tudo e já estou ansiosa para que conheça mais alimentos.

Esta semana já me passou uma conjuntivite (uma especialidade, visto que aracou os dois olhos...) e hoje acordou de madrugada com algumas dificuldades em respirar. É tramado, isto de ser mãe e de ter que manter a cabeça fria, enquanto o ouço de nariz entupido. É uma porcaria de maneira de marcar o primeiro meio ano de vida. Vivo os dias à espera do momento de regressar a casa ou dos fins de semana sem horários para cumprir. Ver um filho crescer é a maior dádiva que já recebi e, enquanto o tempo se encarrega de lhe aliviar os males de ser um bebé, fico cada vez mais ansiosa por vê-lo andar ou dizer as primeiras palavras. Não é ter pressa, é apenas sentir uma curiosidade infinita sobre aquela pessoa pequenina que estamos a ajudar a crescer. E o orgulho que sinto nele vai fazendo o meu peito inchar até duvidar que fui parte responsável por esta maravilha pequenina.

março 23, 2011

Sobre pessoas

Em tempos, tive a mania que conseguia topar as pessoas à légua. Conseguia fazer imediatamente um retrato mental da pessoa que estava à minha frente, tirava-lhe as medidas às características mais evidentes, construía um perfil em poucas impressões. Com o passar do tempo, fui aprendendo que sou pessoa para errar muitas vezes nestas avaliações e fui mesmo obrigada a mudar muitas ideias feitas sobre pessoas, a reconhecer que tinha errado e a dar segundas oportunidades. Sei que as pessoas demoram muito tempo até se mostrarem completamente e que existem mil subterfúgios para esconder características de que não gostamos e por isso fui dando mais tempo para que as pessoas se revelem.

Mas a verdade é que, em relação a algumas pessoas, não sou capaz de ignorar os primeiros sinais de alerta. Desconfio sempre de três tipos de pessoas: pessoas demasiado afáveis no primeiro contacto, pessoas que descrevem as suas tragédias com pormenor a quem mal conhecem e pessoas que não gostam de comer. Sinto desconfiança quando estou com pessoas incoerentes, com pessoas que interpelam os outros sempre em tom de ataque, com pessoas que não tentam compreender que nem sempre tudo corre como queremos. E acho que ainda tenho olho para descortinar tentativas de manipulação (e eu que sou tão susceptível, só para não me chatear). Em relação a estas pessoas, o problema é que tendo a afastar-me nos primeiros momentos e a desligar-me de todas e quaisquer interacções. O facto de ainda confiar muito na minha primeira impressão faz com que seja muito difícil sentir-me próxima dos outros e fazer amigos com facilidade. Não que eu queira amigos com tanta rapidez, mas a verdade é que um bocadinho mais de espontaneidade não me ficava mal.

Voltar ao trabalho foi como uma catapulta que me lançou ferozmente para o meio dos outros. Senti muita dificuldade em integrar-me e encontrar no grupo aqueles que são os meus pares. E ainda hoje, já quase quatro semanas depois, sinto que me estou a enturmar e que já criei alguns laços (incipientes, é certo) com uma pequena parte do grupo. Mas sinto-me retraída sempre que a pessoa odd one out insiste que sabe tudo sobre todos os assuntos ou em partilhar connosco pormenores sórdidos sobre as suas relações que não funcionaram. E é assim que aprendo a ser mais comedida nas minhas palavras, a ouvir mais e a falar menos, a escolher as pessoas que mais se parecem comigo e a escolher minuciosamente os factos da minha vida que posso e quero partilhar com os outros. Muitas vezes senti que já sabia quase tudo sobre relações humanas mas hoje admito a minha imaturidade e ingenuidade: ainda tenho muito, muito que aprender. Entretanto, vou-me divertindo com pessoas que têm mil histórias interessantes para contar e dando às pessoas neuróticas a importância que merecem. Não sou um animal social mas gosto de sentir que sou uma pessoa com algum interesse.

março 19, 2011

Sobre os Pais

Felizmente, dá-se o caso de o meu pai e o pai que eu escolhi para o meu filho serem os melhores do Mundo.

Sempre fui uma menina do papá, ainda hoje me sinto assim e já passei os trinta. Por sermos tão iguais, eu e o meu pai fizemos muitas vezes braços de ferro na questões (sei-o hoje) mais parvas: as saídas à noite, as semanadas, o facto de ele me querer proibir ter computador quando estava na universidade. Mas o meu pai ainda hoje faz tudo, absolutamente tudo o que está ao seu alcance para me ajudar (e à minha irmã, claro está). O meu pai (e a minha mãe, que também há-de ter direito ao seu dia) fizeram um dia 200 km depois da uma da manhã, deixando um casamento para trás só para me abraçarem e recolherem os pedaços de um coração demasiadas vezes estraçalhado. E, chegando a minha casa, quase nem me perguntou porquê, optou por apenas saber esperar. Muitas vezes sou o filho que ele nunca teve mas sei que sempre foi feliz com três mulheres em casa. É incansável e uma grande fonte de segurança para mim.

Já o pai do Vicente tem-se revelado a cada dia que passa. Não tinha dúvidas que seria um bom pai mas a forma como me protegeu e mimou na gravidez foram mais uma confirmação. Ainda me lembro da emoção que senti quando os vi pela primeira vez na nossa cama, tinha o Vicente apenas dias. É tão empenhado em acompanhar o filho que dá gosto ver e divide comigo todas as tarefas menos glamorosas que fazem parte do seu crescimento. Partilhamos de uma mesma visão da educação que queremos dar ao Vicente e do tipo de pessoa que esperamos que ele seja e isso é meio caminho para uma família feliz. Sinto-me sortuda por ele ter decidido formar uma família comigo e é com alguma nostalgia que recordo o dia em que nos sentimos preparados para tudo isto.

Ser pai é a coisa mais difícil que fizemos nas nossas vidas mas é também a mais entusiasmante. E esta aventura promete crescer sempre mais. Ao meu filho, desejo que saiba sempre estimar e apreciar o pai que tem. Ao meu pai, prometo estar mais presente e ajudá-lo no que precisar. Temos tido sorte, é  que é.

março 16, 2011

Homem não entra ;)

O corpo humano é, realmente, uma máquina admirável. Desde a gravidez que me entusiasmo mais e mais com as nossas capacidades (neste caso, as capacidades das mulheres) e com a maneira como a Natureza se encarrega de suprir todas as necessidades do nosso bebé. Quando regressei ao trabalho, um dos meus maiores medos era o de acabar de vez com a amamentação. Não tendo (desde o início) sido um processo propriamente fácil para mim, também não gostava de perder esta ligação tão especial com o meu bebé, especialmente porque foi a muito custo e com muita insistência que cheguei aos cinco meses dele (quase seis, nem acredito...) ainda a amamentá-lo. O mais natural seria que a reserva de leite fosse diminuindo cada vez mais mas não foi isso que aconteceu: em vez disso, o meu corpo habituou-se a um novo horário e a uma nova rotina e sabe que a amamentação só começa agora perto das seis da tarde. Nos primeiros dias, sofri um pouco por antecipação mas tentei perceber o que estava a acontecer. Com a passagem do tempo, percebi que o trabalho não me tinha roubado a satisfação de poder amamentar o meu filho e isto foi especialmente importante quando percebi que ia ser uma complicação habituar o Vicente ao biberão. Agora sei que, caso venha a ter outro filho, todo este processo será mais tranquilo e provocará em mim muito menos ansiedade - ler e pesquisar muito sobre o assunto também ajudaram a aguentar-me firme nesta decisão.

Esta questão da amamentação é ainda polémica porque depende muito das circunstâncias culturais que envolvem a mulher, da experiência dos profissionais que a acompanham durante a gravidez e o parto e, talvez acima de tudo, das experiências das pessoas que lhe são mais próximas. Eu ainda sou da geração que se criava a biberão sem o mínimo sentimento de culpa mas o meu filho já nasceu numa época em que existe muita pressão para a mulher amamentar, não importam as dificuldades ou a falta de apoio que possa sentir durante a difícil fase inicial. Eu própria sinto algum preconceito sobre mulheres que nunca quiseram amamentar por vontade própria, embora reconheça que possam existir razões válidas para essa escolha. Mas continua a ser difícil de compreender: ontem tivemos que dar um biberão ao Vicente e a estupidez foi que eu senti uma espécie de ciúmes daquela tetina, como se ela alguma vez me pudesse substituir. Mas reconheço também que sem o gigante apoio que tive desde o início da amamentação, sem a calma e cabeça fria do pai do Vicente eu teria desanimado à primeira dificuldade e desistido logo. E tenho a certeza que essa decisão me custaria e me ficaria marcada como o meu primeiro falhanço de mãe para sempre. Por isso, tento lembrar-me sempre que há mulheres que não têm a mesma sorte do que eu.

Hoje em dia, anseio pela hora de saída e pelo momento em que chego a casa e vejo a cabecinha do Vicente rodar para a porta e a ficar impaciente porque sabe que eu acabei de chegar. Como todos os bebés, ele sente o meu cheiro e consegue distingui-lo do meio de tantos outros e sabe que chegou a altura de nos sentarmos no sofá, às vezes quase à pressa, para sermos de novo apenas e só mãe e filho.

março 11, 2011

Ainda estou viva!

Tem sido difícil, para não dizer impossível, ter uma hora ou alguns minutos sequer para um bocadinho de lazer. Chegar a casa significa encher o Vicente de beijos, passar os olhos pelo livrinho dele, tratar das coisas para o dia seguinte, arrumar o que ficou do dia anterior e ocasionalmente até cozinhar. Depois disto chega a tarefa impossível de adormecê-lo sem crises de maior e esperar que ele fique realmente a dormir. Com isto, já passa das dez da noite e o meu cérebro está feito em papa. Não há livros ou filmes que me consigam manter acordada e pensante.

As coisas no trabalho novo oscilam entre o entusiasmante, o excesso de conhecimento e um certo incómodo. É inspirador ver tudo o que no anterior trabalho não passava de boas intenções (que ninguém tinha realmente vontade de cumprir) ser levado a sério e fazer efectivamente parte da filosofia da empresa. Os benefícios para os colaboradores são grandes e não estou apenas a falar de dinheiro: antes, da criação dum ambiente em que se pode verdadeiramente crescer e progredir com quase total autonomia ( e responsabilização). Depois, tenho aprendido tanto nestes dias, mas tanto mesmo, que as pouquíssimas horas de sono parecem sempre menos do que já são. E finalmente, temos as pessoas: gosto de algumas, com outras não simpatizo particularmente e esforcei-me por agradar a outras que não interessam a ninguém. Sinceramente, não vejo o dia de parar de achar este tipo de coisas importantes e de dar o devido valor aos outros. Continuo a achar que sou duma espécie perdida: aquela que valoriza o esforço dos outros, que tenta manter-se concentrada, que tenta aumentar o conhecimento (mesmo de coisas que aparentemente não sejam propriamente a nossa área profissional), que não sente a tentação de ostracizar sem razão. Chego à conclusão de que há muita falta de tolerância por aí e muita, muita mania que se sabe. Mas enfim, há caras simpáticas que ajudam a ultrapassar isso.

Não ajudou ao estado geral das coisas ter passado o feriado de cama, sem perceber muito bem porquê. Nem o tempo que resolveu piorar exactamente no fim de semana, embora todos os meus planos passem por recuperar da violência destes últimos dias. Vivo todos os dias à espera do momento em que a chave roda na fechadura e aqueles olhinhos se iluminam quando me vêm entrar. É mágico ter os meus homens em casa à minha espera!

março 03, 2011

Sobrevivi?

Esta que vos escreve hoje não é mais que uma versão zombie da mesma pessoa. Pergunto-me se sobrevivi, se sobrevivemos a esta mudança tão radical mas ainda é demasiado cedo para conseguir dar uma resposta honesta e definitiva.

Se eu já tinha alguns problemas a organizar-me quando o dia era todo meu e do bebé Vicente, agora as coisas complicaram-se substancialmente. Já não tenho o dia todo por nossa conta e preciso de usar as poucas horas de tempo livre de uma forma inteligente e equilibrada e a verdade é que não tem sido possível. Continuo a acordar mais do que uma vez durante a noite para a amamentação e tento amamentar o Vicente o mais tarde possível antes de sair de casa às oito da manhã. Imaginem o que isso tem feito às minhas noites e ao meu sono que continua esfrangalhado como já há um ano atrás. A diferença é que agora tenho oito horas de formação pela frente, oito horas a empinar siglas e abreviaturas, departamentos e funções, oito horas e outras tantas caras por dia e acabo o dia a pedir que tenham pena do meu cérebro. Quando saio do edifício da empresa, a minha cabeça voa automaticamente para casa e para a vontade imensa de ver e poder tocar no meu filho. Mas, para ser sincera, estou a gostar muito do ambiente da empresa e estou especialmente impressionada com a qualidade das pessoas e com os compromissos que todos assumem. Calhou-me em sorte um grupo simpático e acho que não tive dificuldade em integrar-me, ao contrário de outras vezes. O único (grande) defeito é sermos todas mulheres: já trabalhei assim e sei perfeitamente o que eventualmente irá acontecer - nada de bom.

O bebé Vicente iniciou bem a creche: é conhecido por ser sorridente e por detestar estar sozinho. Ainda bebe o biberão a custo porque detesta as tetinas, tem dormido mais ou menos e hoje até já fez uma máscara de Carnaval! Eu convenço-me a todo o momento (e a bem da minha sanidade mental) que ele está a ser bem tratado e feliz mas depois do dia de hoje, em que me entrou em casa meio prostrado e com uma ponta de febre, não consigo parar de me culpar de não poder estar em casa com ele todos os dias, como se protegê-lo assim fosse o melhor para ele. Há dois dias que tenho o coração partido: por um lado, há dias em que vamos estar muito pouco tempo juntos; por outro, é a primeira vez que o vejo tão pouco activo e receptivo e isso deixou-me triste. Não sabemos de onde vem a febre mas estamos atentos a todas as reacções e alterações do estado dele. Só espero que ele acorde «mais ele».

Entretanto, chovem ofertas de emprego. Parece impossível... É como se o Universo se estivesse a divertir enquanto conspira contra mim: entre as que não me interessam e as aliciantes, eu lá vou tentando arrepiar caminho. Vou aproveitando toda a formação que consigo receber e fazer dela o melhor para o meu futuro., preparada para dar o meu melhor neste trabalho E vou continuando a tentar ser optimista, por muito que isso custe diariamente.