setembro 22, 2009

Correr na Estrela #3

Assim que cruzamos os portões do jardim, ouvimos a agitação ao longe. São maioritariamente vozes femininas que se perdem entre gritos e cantorias. Quando estamos prestes a começar a corrida, percebemos que tudo se resume a um grupo de veteranas e caloiras da escola da minha rua. Portanto, como se não bastasse a histeria inerente às praxes, tudo piora por serem apenas raparigas. À segunda volta ao jardim, o grupo já mudou de sítio e está agora perto de um repuxo, naquilo que penso ser o baptismo. É quase noite e as luzes do jardim ainda não se acenderam; as caloiras, lembro-me enquanto corremos, devem estar exaustas, depois de se espojarem no chão, gritarem algumas inanidades e serem humilhadas publicamente durante várias horas seguidas. Não sou a favor das praxes, acho que há outras formas de integrar as pessoas: correndo, por exemplo, ou simplesmente aproveitando a benévola sombra das árvores da Estrela. Para acalmarmos os pulmões dela, paramos aos vinte e oito minutos. Os candeeiros iluminam já o caminho e os sinos da Estrela marcam a oito horas da noite.

(Dos vinte, passamos hoje aos vinte e seis graus. É aquela altura do ano em que vamos ainda alternar entre o Verão que já terminou e o Outono que já apareceu por aqui. Já se corre ao anoitecer, da mesma maneira que quando acordo ainda é noite.)

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