julho 29, 2009

Postais do fim de semana #3

Não nasci numa aldeia mas foi como se tivesse nascido. As pessoas conhecem-se todas umas às outras, as minhas avós param em tudo o quanto é lado para conversar com quem se cruzam, os ciganos sempre venderam a mesma roupa contrafeita à porta do mesmo supermercado onde as minhas avós foram toda a vida. Já percebi que os velhos da minha infância estão todos a definhar ou a morrer e em breve não vai sobrar-me nenhuma recordação do género.

Mas, indiferentes à modernidade ou ao progresso, as festas do meu bairro continuam. E é como se fossem as festas da aldeia: tocam os sinos, a procissão dá uma volta pela rua principal, as pessoas têm certamente guardada roupa para esta ocasião, os homens bebem demais e as mulheres dançam umas com as outras, quando não estão sentada com um cobertor sobre as pernas. Estava demasiado frio para uma noite de fim de Julho, estava vento mas havia ainda quem empinasse umas cervejas ou corresse atrás dum reguila qualquer. À tarde, formou-se fila para os carros serem benzidos (pelo patrono dos viajantes) mas não antes de estenderem o braço e pagarem (literalmente) a sua promessa.

Antes, eu esperava ansiosamente que estes dias chegassem e que pudessem romper o torpor das férias de Verão. Depois da solenidade do momento, era a hora do orgão e do acordeão. Disso e das estrelas vistas de São Cristovão, quando as noites ainda eram de calor.

julho 27, 2009

Postais do fim de semana #2


Eu diria que estavam mais que trinta e cinco graus mas nunca fui muito boa a avaliar distâncias ou temperaturas. A diferença entre o nosso país e Espanha começa logo no alcatrão, que passa de uma largura de um carro para duas largas faixas de rodagem mas o Sol queima exactamente da mesma maneira. À volta do pequeno cruzamento, reuniram-se em tempos umas dez casas, agora acompanhadas por um restaurante moderno e muito frequentado. Se arriscarmos um pouco mais dentro da aldeia, longe da estrada principal, conseguimos ouvir mesmo o calor e é como se o pasto seco entrasse a qualquer momento em combustão espontânea.

Foi uma viagem pelas estreitas estradas do Parque Natural da Serra de São Mamede, alternando o falso fresco do ar condicionado com as baforadas de calor que fugiam à desordem dos pinheiros. Foram alguns quilómetros pouco antes do almoço para testemunhar a gratidão e a humildade de quem foi salvo dos grandes fogos de 2003 e foi a maneira de regressar com uma maceta de manjerico para casa. No final do dia, podia encher o meu peito com o orgulho que sentia e relaxar depois de um mergulho nas águas da Portagem. É muito fácil viver feliz, com um pé em ambos os lados da fronteira. É o lema de há muito - um pé em Portalegre, outro no Mundo.

Postais do fim de semana #1

As fotos são dele.

São graus a mais para conseguir estar apenas na rua e o resultado foram dois dias de piscina, com o Sol em modo hardcore. Acho que já tinha saudades deste calor à séria, que torna insuportável mesmo uma esplanada debaixo de gigantes chapéus de Sol. A sorte de se morar neste canto do país é que quase todas as piscinas aqui à volta têm aquilo a que se chama uma vista: ou a imponência de Marvão ou a serra de São Mamede ou mesmo a planície a estender os braços em direcção a capital. Foram momentos de pausa mas com pouco silêncio, que as piscinas foram invadidas por malta com menos de doze anos ou simplesmente por espanhóis. Às vezes, pergunto-me onde anda a promoção turística duma região tão rica em património humano e natural... Vamos a mais um mergulho, que aqui está a ficar muito calor.

julho 23, 2009

Tenho medo de histórias de amor perfeitas.

julho 22, 2009

Back to school (we are the leaders)

É verdade, decidi que me apetece estudar outra vez. Comecei a olhar à minha volta e a perceber que os estímulos a que estou sujeita agora não são propriamente interessantes e muitos nem sequer se podem chamar estímulos. De há três anos para cá, tenho aprendido imensas coisas novas mas quase nada do que aprendi serviu para me realizar pessoalmente ou para me estimular intelectualmente. A cabeça, mesmo assim, ainda não está parada.

Sou candidata a uma licenciatura e a um mestrado, o que, apesar se serem graus diferentes, tem a sua razão de ser. São talvez as duas áreas onde gostava mais de trabalhar e sobre as quais me imagino a pensar. E ontem, quando voltei a entrar na faculdade, senti o formigueiro de quem se está a meter numa nova aventura. Eu, que pensei nunca mais pôr os pés naquela escola, dei por mim entusiasmada por poder outra vez sentar-me naqueles anfiteatros, fotocopiar livros inteiros, sentar-me a estudar na esplanada. Acho que foi a melhor maneira de confirmar que é isto que eu quero para mim. Não tenho a ilusão de que é isto que me vai salvar de um trabalho estéril, descaracterizado ou inútil - as alternativas, infelizmente, não são muitas. Mas é certamente isto que me vai enriquecer e aproximar-me da pessoa que eu gostava de ser.

Agora só falta saber se sou aceite ou não. No melhor dos cenários, vai ser um prazer tem cartão de estudante outra vez.

julho 19, 2009

Andei por aí! *

As fotos são minhas e do meu capitão

A minha noção de fim de semana muda radicalmente sempre que não estou sozinha. Conseguimos fazer o que queremos e ainda ficamos com tempo para fazer ronha no sofá. Damos um pulo à LX Factory depois de comer caracóis e aquele pica-pau. Entre a Ler Devagar, onde fico fascinada pela prateleiras infinitas e pelas rotativas gigantes, e outro armazém decorre este festival, onde tenho o prazer de assistir ao concerto de Dobet Gnahore. Chegada da Costa do Marfim, é uma espécie de Lisa Gerrard negra com que me faz arrepiar sempre que canta sem rede, sem banda, sem medo. Canta sobre a família, a desflorestação, a farsa da política e surpreende todos com a sua elasticidade e coreografias. Todo um deleite para os sentidos, este concerto.

Passamos o Sábado entre sítios que eu gostava de conhecer, não sem antes eu gastar uma quantia absurda de dinheiro na minha primeira consola. Eu bem quis ter uma Mega Drive e anos mais tarde apetecia-me ter um PS mas pronto, como sou rapariga, deixei conquistar pela Wii com aquele tapete para fazer exercício e tudo. Ainda me parece tão esquisito, jogar quando me apetece, agora aos vinte e nove anos! Ainda me lembro de ter pedido uma consola aos meus pais e eles me darem como escolha a consola ou uma televisão no quarto... Adivinhem o que ganhou. Estão, portanto, prometidas algumas horas a fazer figuras tristes, da quais a minha irmã também terá certamente a sua quota parte!

E depois o jantar, o sushi que guardamos para as ocasiões que merecem comemoraração, aqui para os lados de Campo de Ourique. Até pode não existir nada para festejar porque os dias assim são literalmente perfeitos e eu não me importo de os acabar no sofá a ver uma tontice qualquer e tudo o resto perde a importância porque não me falta nada. Só pedia que pudesse repetir a felicidade em dias consecutivos, sem ter que esperar outra vez.

* e o meu nome escreve-se com S mas não tive tempo de o explicar ao senhor do café.

julho 17, 2009

Boletim clínico

Obrigada a visitar mais uma vez o serviço de atendimento permanente de um hospital (leia-se urgência), não posso deixar de sentir o gosto acre de poder pagar cuidados de saúde muito acima da média. Desta vez foi no hospital da Luz, um sítio tão agradável, limpo e silencioso que uma pessoa nem se lembra ao que foi. Tendo saído sem preocupações de maior, também constato que o que me levou lá já se arrasta há um ano, o que é no mínimo incómodo e faz-me duvidar da seriedade de médicos cujos honorários se inclinam para a centena de euro.

Não tem sido um ano fácil, em termos de saúde. Às vezes, sinto que há qualquer coisa muito errada dentro de mim, uma conspiração que, ora esconde a verdade, ora deixa os sinais serem demasiado evidentes. E eu, com uma cabeça dada a fazer filmes e a pensar demais, não sei muito bem o que fazer com esta história toda. Tenho tentado sempre ouvir as vozes que me dizem que vai ficar tudo bem mas a verdade é que este tudo bem dura sempre muito pouco tempo. Aconselhada a ser vista por um especialista, eis que estarei em Coimbra na Segunda à noite para expor o meu caso. Pela trilionésima vez, parece-me. A única coisa que queria era saber exactamente o que fazer, mesmo que a reposta fosse qualquer coisa dolorosa. Até lá, a minha saúde continua a ser uma telenovela mexicana de mau gosto, o sítio mais pantanoso por onde já me movi.

julho 14, 2009

Há um colega meu que vive imaginando teorias da conspiração. Passou grande parte das férias a pensar nisso, quando a pessoa normal normalmente aproveita para se afastar um pouco do Mundo ou simplesmente para não pensar em nada. Diz que o Obama ganhou pela sua cor da pele porque os Estados Unidos querem conquistar África, que o chip nas matrículas servirá para criar um imposto sobre o CO2, que o Hugo Chávez vai ser assassinado porque é essa a maneira de funcionar dos Estados Unidos, que Portugal é um (ainda assim gigante) tubo de ensaio para outras democracias. Ele discute sobre os ingredientes proibidos na nossa comida, sobre a película que colaram no vidro do juíz, sobre o papel do Al Gore na luta pelo meio ambiente. Viver no mesmo Mundo em que ele vive deve ser a coisa mais alucinante que existe. E não é que eu acredite em tudo o que os orgãos de comunicação nos querem impingir mas, se fosse como ele, perdia a minha sanidade mental.

Estou mesmo empenhada em salvar o que me resta de ingenuidade.

julho 12, 2009

Breves (e as férias a acabarem...)

É Sábado à noite e eu ainda estou no escuro do meu quarto. Aproximo-me perigosamente do regresso à realidade (aka Lisboa ou o trabalho) e sinto que há um desconforto neste avançar das horas. Já sei que amanhã não conseguirei dormir, como em todos os regressos, mas sinto que desta vez a coisa se complicou: já não é só querer estar eternamente de férias. Agora, agudizou-se esta sensação de inutilidade, esta vontade de fazer algo de melhor pelo Mundo sem ter que sofrer as pressões dos orçamentos ou do cumprimento de objectivos. Estas férias deram-me tempo demais para pensar, para sentir lentamente que o que eu tenho é uma necessidade de me humanizar, de trabalhar para pessoas e para me realizar pessoalmente. Não sei muito bem com resolver esta embrulhada mas sei que, antes de mais, o que me falta é rever a minha lista de prioridades e tentar perceber de que maneira me sentiria mais feliz.

O meu próprio corpo anda a trair-me. A minha carne continua a ameaçar boicotar os meus planos de futuro e é tudo tão incerto que a preocupação me chega numa espécie de convulsões. O meu corpo quer passar-me uma rasteira e nem tenta esconder as suas intenções. Tento respirar fundo e relativizar, engendro planos alternativos, antecipo hipotéticas dores futuras. Quando a ameaça vem de dentro, sentimo-nos ainda mais ultrajados.

Hoje (ou ontem) saiu o terceiro número desta revista. Paralelamente, aconteceu finalmente o lançamento oficial, na mesma altura em que se comemora a distribuição em todo o país. Estive presente, com todo o gosto, para poder testemunhar o sucesso que uma estrutura tão leve e independente já conseguiu até aqui. Orgulho-me de fazer parte, ainda que distante, desta equipa e de poder contribuir para mudar a imagem que muita gente ainda tem do Alentejo, dando a mostrar o talento de que nasceu abaixo do Tejo ou de quem, apaixonado, se fixou por aqui.

Sinto-me terrivelmente confusa sobre qual é o meu papel no Mundo. Sei que não pertenço ao mundo dos relatórios semanais, das estratégias de liderança e dos resultados líquidos mas ainda não consegui relocalizar-me. Queria apenas estar mais próxima das pessoas, sem que isso implicasse necessariamente avaliá-las, admoestá-las ou dirigi-las - a única coisa que desejo é estar em pé de igualdade com elas e poder absorver também as suas histórias de vida. Já pensei muitas vezes em largar tudo e começar do zero noutro sítio qualquer. Mas a ideia de deixar a minha família para trás tem-me demovido de tomar uma decisão mais impensada. Mas não se enganem, que sou uma pessoa feliz. Tenho as oportunidades de mudar, o Mundo à distância de um qualquer bilhete de avião, as pessoas que me querem bem, a metade que me faltava. Não estou só e isso é tudo. Resta-me só enterrar* esta minha insatisfação num sítio qualquer.

* leia-se resolver.

julho 09, 2009

The dog days are over *

Se eu quisesse, não poderia enumerar o número de vezes em que me surpreendi nos últimos tempos. Podia querer contar estas vezes mas é tudo tão rápido e eu não estou realmente a tomar nota, por isso vai-me tudo passando ao lado. Não as surpresas, mas a sua contagem.

Tenho lido alguns posts nos últimos tempos sobre o facto de se ser muito selectivo ou esquisito com aquilo que nos faz feliz. Tenho lido sobre pessoas que acham que já não merecem ser felizes ou que acham que não voltarão a sentir-se completas. Tenho encolhido os ombros quando leio sobre pessoas que buscam a felicidade, comparando o que têm agora com aquilo que um dia tiveram. Pessoas bonitas, inteligentes e independentes não deviam duvidar das suas qualidades e, muito menos, do seu direito a ser feliz.

Procurem menos. Olhem para quem está à vossa volta, a resposta costuma estar subtilmente escondida por aí. Não escolham, deixem-se levar. Deixem-se convencer de que o que estão a fazer é uma loucura saudável. Não procurem, de todo. Deixem de idealizar. Deixem que vos amem e que vos adorem sem qualquer razão especial. Dêem tempo a tudo: às interrogações que vos vão assaltando, às fantasias e ao desejo se o sentirem a crescer, à vontade de mudar, à misteriosa sensação de que tudo pode estar a mudar. Enviem sms longas, percam a mania (como eu) de que não gostam de falar ao telefone, mandem mails com coisas que encontraram por aí. Não rejeitem o carinho de ninguém. Deixem-se apoiar. Aceitem convites para lanches, piscinas, fins de semana. Passem ao espelho o tempo suficiente para se sentirem radiosos. Não estranhem o brilho do vosso olhar. Convençam-se que as borboletas na barriga vieram para ficar. Suspirem o tempo todo. Ouçam a minha avó quando ela diz que, o que é nosso, às nossas mãos virá. Se tiverem vontade de dançar, pulem. Não se sintam esquisitos quando tiverem vontade de beijos o tempo todo. Tenham catorze anos aos trinta. Não contem o tempo que demorou até serem felizes mas o que ainda têm à vossa frente. Arrepiem-se com a música. Descubram poemas na vossa cabeça. Não estranhem se chorarem de alegria. Às vezes, o amor chega e nós, destreinados e incrédulos, não percebemos.

Ser feliz também é deixar que nos amem. É arriscar mais um falhanço para descobrir o que nos faltava. E dizer sempre, sem pensar no que isso quererá dizer amanhã. O amor é e sempre foi aqui e agora.

* uma música sobre o instante em que a felicidade nos acerta em cheio.

julho 07, 2009

M de mar, mergulho e moleza

O porto estava cuidadosamente arrumado entre praias de areia muito escura e grossa. Nunca espreitámos os barcos atracados por lá mas ainda vimos passar alguns navios de cruzeiro pela costa, quem sabe lotados por velhinhos que gostam de dançar o foxtrot sem riscos e casais para quem a lua de mel se resume a uma mão cheia de dias entre as paredes de uma cabine. A água era escandalosamente fria, especialmente se pensarmos nas nossas praias banhadas pelo Atlântico. Esperando a temperatura da água quase idêntica à temperatura do ar, muitas foram as vezes em que as dores nos ossos não nos deixaram estar na água mais do que o tempo estritamente necessário para refrescar.

Se alguma vez buscámos sossego, devíamos saber que não era aqui que o íamos encontrar. É claro que os espanhóis falam alto, é claro que são festivos e emotivos mas aquilo a que assistimos diariamente é talvez um bocadinho demais. As discussões sobre a educação dos filhos, as cadeiras disponíveis, os colegas de trabalho - tudo quase gritado, para que toda a praia não se sentisse excluída e pudesse também comentar. Se a isto acrescentarmos que os espanhóis gostam ainda mais de se amontoarem, de estenderem arraiais em cima de outras pessoas que nós, a coisa ainda piora. Mas tudo se compensava com a visão de bebés por todo o lado, pela mão dos pais ou na barriga das mães, nus e de boné na cabeça, gatinhando na areia ou recusando-se a pisá-la. Se isto pudesse ser uma amostra da natalidade, então podíamos também concluir que a população espanhola se está a rejuvenescer sem problemas. Depois podemos somar ainda os vendedores de malas (imitações grosseiras de Prada e Gucci e Channel), de relógios e óculos de Sol, os rapazes que carregavam as túnicas marroquinas ainda em cruzetas, os apregoadores de bebidas frescas e gelados, o rapaz das tatuagens e a trupe das massagens - vale tudo para vender mais.

A piscina coroava o hotel no nono andar, o restaurante esperava-nos no primeiro. Em algumas alturas, éramos as únicas portuguesas do hotel e o caixa já nos agradecia na nossa língua. Perdemos a conta às excursões de velhos que entravam e saiam às horas das refeições, garrafa de vinho, água e gasosa. O horário da sesta foi cumprido religiosamente por quem consegue adormecer em cinco segundos, intermitentemente para quem se deixa comandar pela bexiga. Beberam-se três ou quatro gins tónicos preparados no quarto, com uma faca desviada subtilmente do restaurante. Fizemos muito com pouco. Em havendo Sol e um pedacinho de areia para estender a toalha, a malta esquece-se que trabalha e que muitas vezes detesta o que faz. Depois, é mergulhar no Mediterrâneo, preparar-se para boiar e, quando finalmente descansamos a cabeça dentro de água, só ouvimos a imensa pressão de um mar inteiro e a nossa própria respiração. Se fecharmos os olhos, tudo o resto deixa realmente de existir. Apenas as boas recordações se mantém à tona connosco, evitando outros banhistas, borboletas na barriga também em estado líquido.

julho 05, 2009

Já tinha saudades, confesso.

Regresso de férias com a sensação de que agora preciso descansar destes dias sem fazer absolutamente nada. Não é bem um regresso, se pensar que há ainda mais uma semana de férias à minha frente. Foram oito dias num sítio com gente muito estranha, staff de hotel que se sentia intrigado, alguma paella e horas intermináveis de Sol (da qual me protegi devidamente com os factores recomendados, que eu não sou a favor de descuidos desse género). Não li tanto como idealizara, não ouvi tanta música como seria costume e escrevi muito menos do que seria desejável - quase todos os objectivos cumpridos, portanto. Sobrou-me o tempo para pensar, ter saudades e imaginar cenários, decisões e mudanças enquanto me voltava vezes sem conta na toalha ou nos momentos que antecediam a obrigatória siesta. Vou ter saudades dos banhos na água gelada (sim, até fazia doer os ossos) do Mediterrâneo e do céu insistentemente azul. Mas agora voltei, o Mundo também voltou a existir e ainda me sobra tempo livre. Depois da auto-estrada da prata, de nos perdermos em Sevilha debaixo de 42º e de sevilhanas cantadas às cinco da manhã a plenos pulmões, voltei a casa. E pelas razões óbvias, é muito muito bom regressar.