agosto 19, 2008

No trabalho, é como se tivesse só buracos negros à minha volta: sugam-me toda a energia possível durante as sete horas e meia que passamos juntos, distraem-me com erros em catadupa e com perguntas estranhas. Fecham-se na casa de banho a falar ao telefone de hora a hora, inventam esquemas para virar o horário a favor deles. A minha chefe pergunta-me cinco vezes, dez vezes antes de sair se está tudo sobre controlo. Por instantes, não sei se ela fala do trabalho que fiquei de organizar ou se de mim e hesito na resposta. Às vezes, fico tão desanimada com as pessoas em geral que tiro prazer de fazer o caminho para casa a pé, a música a isolar-me dos ruídos exteriores. Consigo fingir que há uma mão gigante que desce do céu e recolhe as pessoas (para onde não sei, uma nuvem qualquer) para um castigo qualquer, para um sítio onde se ensina o civismo.

Enquanto imagino um mundo mais vazio, enquanto atravesso um jardim da Estrela cheio de velhinhos, meninas com trotinetas, bebés estrangeiros deitados na relva, testemunhas de Jeová e turistas de meia idade, o que me vai valendo é isto. Chamam-se Bowerbirds mas também se podiam chamar só conforto.



You're in our headlights, frozen, and no, we're not stopping.

3 comentários:

K. disse...

Pelo que li neste post, e em resposta ao coment�rio do post anterior, nao me parece mesmo nada que estejas a fazer algo errado...

Anónimo disse...

sabes o que eu faço em dias assim?qaundo estou tão absorvida pelo trabalho que tenho duvidas se sou realmente eu? ponho Elephant Gun dos Beirut e danço, danço como se nunca tivesse feito mais nada na vida :)

M. disse...

K., isto não é uma questão de magia mas sim de excesso de imaginação :)

Caracoleta, parece-me uma bela ideia. Tenho um corredor inteirinho para praticar isso!