junho 27, 2007

Um même

(A doce Rita Maria desafiou-me para uma coisa destas e eu vou aceitar. Como ela, não sei exactamente o que é mas de certeza vai sair qualquer coisa. Não tão poética como a que ela fez mas sairá.)

Acredito nas pessoas. Mesmo com provas definitivas da sua maldade ou mesquinhez ou traição, eu acredito que também vale a pena conhecer o outro lado delas e que, por esse mesmo lado, elas podem ser perdoadas. Acredito na sua natureza boa acima da natureza má e na sua capacidade de se entregarem aos outros acima da vontade de se fecharem em si próprias.

Acredito que o sentido da Vida está na música que ouvimos, nos filmes que vemos, nos livros que estão à espera na nossa mesa de cabeceira, nos quadros pendurados nas paredes dos museus e nas paredes na rua. O sentido está em todos os minutos em que nos esquecemos que somos máquinas de ganhar dinheiro para sobreviver e é por isso que acredito que o facto de não ter um cêntimo poupado faz também todo o sentido.

Acredito nas viagens como máximo espelho para a imensidão daquilo que nós somos. Acredito que as pessoas são iguais em muitos cantos do globo e que, por isso, podemos simpatizar com as suas causas, apreciar a sua beleza, invejar a sua vida. Acredito que seríamos muito mais felizes se pudéssemos esquecer as diferenças de rendimento, de objectivos, de cultura ou civilização e nos limitássemos a ser pessoas. Só.

E acredito no Amor. Em todas as formas, em todos os lugares ou épocas. O Amor é aquilo em que mais acredito. É com ele que me comovo, é por ele que me encho ainda de esperança. Não interessa que haja quem diga que ele já não existe: eu já o experimentei e ninguém me convence que isso não irá acontecer outra vez. Mesmo que em alguns dias até eu duvide disso... Acredito que não há nada melhor para sentir que aquela desinquietação, aquele estado febril, mesmo que venham em ondas de diferentes dimensões e efeitos.

Acredito em mim e que esta vida que se estende até um sítio que interessa. Às vezes (muitas vezes) esqueço-me disso e fraquejo. Mas pego em mim e empurro-me para a frente. Que p'à frente é que é caminho.

(O novo desafio fica ao Lobístico - que certamente terá coisas bonitas para escrever - e à A.M. - que também ama a escrita.)

junho 26, 2007

There are many of us. *

Hanna: Um, because I think that if we go away to someplace together, I'm afraid that, ah, one day, maybe not today, maybe, maybe not tomorrow either, but one day suddenly, I may begin to cry and cry so very much that nothing or nobody can stop me and the tears will fill the room and I won't be able to breath and I will pull you down with me and we'll both drown.

Josef: I'll learn how to swim, Hanna. I swear, I'll learn how to swim.


(numa sala quase vazia, as duas mulheres resolveram sentar-se ao meu lado. exactamente coladas a mim. pelo menos não eram das que falavam. deixei escapar três lágrimas, não mais, que me desceram cara abaixo e secaram depois do meu pescoço. atrás de mim, um rapaz de cabelo sob os olhos e ténis excêntricos soluçava muito alto. soluçava mesmo quando toda a sala estava em silêncio. havia outra pessoa que chorava na sala mas não era eu. eu só verti três lágrimas solitárias. não sei se estou a ficar insensível ou se as estou a guardar para o dia.)

* este ciclo de cinema legisla. hoje foi este.

junho 25, 2007

Acho que é seguro dizer que sobrevivi.

Hoje disse a alguém que já não tenho idade para certas coisas. Salvaguardando os devidos exageros, às vezes sinto que é mesmo assim - acho que não me vou suportar logo quando chegar aos trinta.

A sexta-feira trouxe consigo mais uma actividade da empresa, que é como quem diz: enfiam-se quase todos os funcionários em autocarros, levam-se até um sítio seguro e mais ou menos deserto e deixa-se que a malta conviva enquanto participa em actividades ao ar livre. Eles chamam-lhe team building, eu cá digo que a fórmula disto é qualquer coisa do género

conhecer malta nova + actividades ao ar livre = - trabalho

Este ano a coisa foi mais radical. A primeira vez que deitei olho às actividades programadas pensei que não ia participar em nenhuma. Quase todas implicavam estar num sítio demasiado alto para mim e achei que não teria coragem. Só se escapava o tiro com arco e com besta e, mesmo assim, não era nada garantido porque nem sabia se tinha jeito. Mas a ideia de passar tempo com outras pessoas, mexer-me e jantar com elas agradava-me e confirmei a minha presença logo no primeiro dia.

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket

O resultado é que participei em tudo, não me esquivei a nada: caminhada de quatro km com orientação GPS, rapel, escalada, slide e tiro com arco e besta. Se me dissessem há uns tempos que estaria pendurada por uma corda, a alguns metros do chão e apenas dependente de mim ia com certeza achar que a pessoa estava maluca. A nossa equipa obteve um honroso segundo lugar e sempre deu para conhecer malta que vemos todos os dias por ali. Só por isto eu esqueço o suor e o pó que se tinham tornado na minha segunda pele, os nervos que senti quando comecei a descer a parede de escalada e a dor de costas e braços que ainda hoje tenho. Perder medos é bom.

junho 20, 2007

Sobre coisas invulgares

O Super Panda há muito que se queixa: a pintura está a ficar roída, não tem antena há anos (graças a uma pessoa que eu cá sei...). Agora deu-lhe para ficar rouco e fazer as viagens inteiras engasgado. Ele continua a andar e continua a ser o meu carro preferido de todos os tempos e eu continuo a ter grandes planos para ele mas o mecânico disse que o que ele tem se resolve muito facilmente... com um carro novo! Claro que ainda o vai tentar salvar, vai usar o equivalente a um desfibrilhador para carros (neste caso, uma caixa de velocidades nova) e dar mais alguma esperança ao meu menino.

A primeira coisa invulgar de ontem foi ouvir o meu pai dizer

Olha, nós levamos o teu carro para Portalegre. Ficas cá com o meu e leva-lo no Sábado.

Como diz? A mesma pessoa que, quando anda comigo a conduzir, finca bem o pé no chão, tentando travar. A mesma pessoa que, quando anda comigo a conduzir, acha que vou levar todos os espelhos de todos os carros com que me cruzo. A mesma pessoa que tem a tentação de (ainda) me orientar o volante nas curvas. Hum. Eu desconfio desta valente manifestação de confiança e sorrio secretamente a pensar na maravilhosa viagem que vou fazer, confortável e certamente a mais quilómetros por hora.

Depois, houve aquele que considero o momento alto da minha semana. Estava sentada atrás deste mesmo ecran, enquanto os meus pais viam televisão na sala e ia relatando as minhas decisões: que tinha decidido comprar ao meu afilhado uma boneca insuflável, que precisava de descobrir uma loja online que fosse discreta. Que ele precisava de uma coisa assim antes do casamento, agora é que era a altura. E a minha mãe ia abanando a cabeça, ia sempre dizendo que sim e ia perguntando os preços (como se ela soubesse o que é razoável pedir por uma boneca insuflável...). E foi assim, com o alto patrocínio da senhora minha mãe, que comprei a primeira boneca insuflável da minha vida. E (espero que) a última... Não quero mais ter que escolher entre uma Pamela, uma morena, uma ruiva ou uma obesa... Não quero ter que optar ou não pela que tem um kit de reparação (o que quer que isto queira dizer...)

De maneiras que comprei esta menina. Chama-se Ramona (baptizei-a eu) e é uma excelente companhia. Agora o meu afilhado só vai ter que acompanhar a menina na noite de Sábado. E depois talvez montar-lhe um apartamento, que não me parece que a noiva vá gostar. Portanto, resumindo... Sex shop e a minha mãe a acenar. Eu juro que não esperava viver para ver este dia.

junho 17, 2007

Às vezes parece que a minha vida está a acontecer noutro sítio qualquer


You stood in my doorway smelling of cigarrettes and jazz
I wanted you to kiss me with your tongue of fire
I guided you slowly through a dark narrow corridor
We made our way through the path of desire
Your eyes said pleasure, mine just sparkled.

junho 15, 2007

E agora para a antítese...





Só no Domingo passado tive a oportunidade (não foi a primeira nem a segunda oportunidade mas a preguiça daria tema para um post inteirinho...) de ver Lisboetas, o documentário de Sérgio Tréfaut sobre a gente que abandona o seu país e vem ser alfacinha. Por um lado, fiquei contente por ter adiado isto até agora: tenho a certeza que, se tivesse visto isto na sala escura de um cinema, teria passado o filme inteiro a chorar ou com um apertado nó na garganta que me ia sufocar se não abandonasse a sala a correr após o fim. Mas, por outro lado, senti o alívio final de quem consegue algo que há muito desejava. E eu desejava mesmo ver isto. Mesmo que tenha deixado todas as oportunidades fugir...

Fiquei colada à televisão. Eu choro por tudo e por nada. E se não choro, fico muitas e muitas vezes com as lágrimas à beira de deixar os meus olhos. Foi o caso em demasiados momentos do filme: no momento em que a mãe olha, embevecida, o seu bebé no eléctrico 15; nos momentos angustiantes em que os emigrantes se sentam frente aos funcionários do SEF sem perceberem uma única palavra e sem que estes se dignem a admitir que não são compreendidos; nos momentos em que os brasileiros telefonam para casa e prometem bicicletas; nos momentos em que um professor de português para estrangeiros consegue um verbo conjugado da boca de um estrangeiro; ou nos momentos em que a funcionária de um posto médico ambulante se interessa pela vida de mais um paciente.

Em que parte das nossas vidas nos tornamos assim insensíveis? Em que exacto minuto passamos a virar a cara para o lado para não doer mais? Em que momento é que decidimos que os nossos males são suficientes? São demasiadas perguntas para quem tem uma vida para orientar e uma casa para pagar e bocas a quem dar de comer e férias para pagar em prestações suaves. Eu também não queria ser insensível mas é a única maneira de manter a sanidade. É a única maneira de sobreviver no meio de ruas onde a miséria espreita demasiadas vezes. É?

A felicidade é contagiante (?)

Seis da tarde.

Na avenida Fontes Pereira de Melo um casal de noivos beijava-se, encostado a um poste. Atravessar a avenida foi uma aventura para a noiva que segurava desajeitadamente a cauda do vestido. Eu não conseguia descolar o meu olhar deles. As pessoas que por eles passavam não conseguiam evitar olhar para trás. Os condutores traziam todos um sorriso nos lábios.

A vida ainda agora começou. Mesmo para nós.

junho 13, 2007

Dormir mais feliz #3


When we kiss, when we kiss
Bears and boulders vibrate through the air.
Gravity is dead, you see...
No gravity... all I need is beating red.
No gravity...

Os Santos [modo: telegráfico]



Descobrir a janela com a vista quase perfeita e contemplar a fronteira quase inexistente entre o azul do céu e o azul do rio. Gozar de muito boa companhia, com sotaque espanhol (de Saragoza) e com uma natural e espanhola queda para a cozinha. Minis Sagres, Couteiro Mor e Cubatas. Ruas cheias de gente: os mais eufóricos, os gelados, os pacientes, os sequiosos. O cheiro a sardinhas, a bifanas, a manjericos, a cerveja e a rio. Renunciar à multidão em festa, trocá-la por uma cambada de boches impacientes. Esperar duas horas por um táxi - sozinha, ignorando o frio que descia subtilmente, tentando não ouvir as conversas dos outros para não ter que rir. Três horas de sono, três horas muito curtas mas quentes, três horas que souberam a oito.

Se isto dos Santos não é Lisboa, então não sei o que será.

junho 11, 2007

Franchicola!

O meu gajo preferido faz hoje quatro anos! Não me ligou nenhuma ao telefone, como é óbvio: estava precisamente a desembrulhar qualquer coisa relacionada com o Spiderman. Espero que ele cresça com estes olhões lindos e com a genica que demonstra até agora. Não sei muito bem o que sinto por ele mas é qualquer coisa perto do amor :)

Tacones Lejanos *

Eu olho e (re) olho para eles e respiro fundo. O casamento está quase aí à porta e eu ando a contar os dias que faltam não exactamente para o casamento, mas para o dia em que vou ter que andar encavalitada neles.

As compras foram relativamente pacíficas. Os meus pais deram-me uma mãozinha (sempre suspeita, porque eles acham que eu fico bem em qualquer trapo e de qualquer chanato) e fomos até Badajoz espreitar as modas. Como eu previa, comprei o vestido na primeira loja onde entrámos, em grande parte resultado da simpatia e da capacidade da vendedora em dar graxa descaradamente. Que sim, que aquele modelo me ficava bem, que sou nova e devia andar mais atrevida, que a cor me assentava lindamente. Esta enxurrada de elogios misturada com o efeito que a língua espanhola tem em mim nem me deixaram hesitar.

Mas o vestido é uma coisa. Outra coisa totalmente diferente é conseguir manter uma postura minimamente digna em cima destes saltos, tentando parecer (no mínimo também) normal. Já nem sequer falo do meu papel de madrinha, que (protocolo oblige) me obriga a estar deslumbrante. Manter uma postura erecta já será uma vitória gostosa. Entretanto, enfio os sapatos rasos num saquinho para poder dar cabo daquela pista de dança. Ah pois, que não serão uns saltos altos a estragar-me a festa.

* um belo filme do señor Almodóvar.

junho 10, 2007

As noites na Quina das Beatas III



Para acabar as férias em beleza, na sexta-feira tive a oportunidade de (re)ver os Vicious Five aqui. Foi uma noite atribulada mas em que parecia levitar (talvez já a adivinhar a semana de trabalho que amanhã começa...). Mais impressões sobre o concerto aqui. A vida normal tomará conta desta emissão dentro de umas horas. (suspiro)

junho 06, 2007

Dormir mais feliz #2

Yet my hands are shaking
I feel my body remains, time's no matter, I'm on fire
On the playground, love.

M @ cozinha III

Já que hoje estamos numa de posts de séries aqui fica também o terceiro desta saga na cozinha. Deixo-vos a fotografia do meu jantar de hoje: uma salada com alfaces (sim, o plural é intencional!), alperces, queijo mozarella fresco, cenoura ralada e azeitonas. Pode temperar-se de variadas formas, eu escolhi o molho de iogurte. Digam lá se com este calor não apetece uma coisa mais leve... Bom apetite!

Magníficos dias atlânticos pt. III


Esta coisa de ser pelintra, como a maior parte de todas as coisas, tem o seu lado bom e o seu lado mau. Ser pelintra significa, no meu caso, ter duas semanas de férias mas não ter dinheiro suficiente para fazer uma viagem, um passeiozinho sequer. Eu bem vi catálogos de agências de viagens e fiz muitas muitas contas ao dinheiro que ainda me sobrava e não - definitivamente não dava para nada. Tinha sempre a opção de me endividar, como grande parte das pessoas fazem (ai, é só mais uma prestação para podermos ir para aquele hotelzinho, sabes? aquele...) mas achei que uma dívida já me chega, especialmente quando é daquelas para toda a vida. De maneiras que... fiquei por casa.

A parte boa da coisa é que tenho alojamento, sem ser incomodada por outros hóspedes. E ainda tenho direito a um tudo incluído espectacular sem precisar de andar com aquelas pulseiras irritantes. E ainda... Bem, não há espectáculos à noite neste estabelecimento. Pelos menos não há karaoke nem drag queens. A parte má é que não há mais ninguém a tirar férias na primeira semana de Junho e, portanto, quaisquer idas à praia ou a outros locais têm que ser pensadas no singular. O que até nem é mau. Numa forma extrema de pensar, assim eu garanto sempre que a companhia é boa. Ou não, não sei.

E pronto, lá vai a menina todos os dias de manhã para o outro lado do rio. Pego no carro, atravesso a ponte no sentido menos caótico e quando chego ao destino posso dar-me ao luxo de escolher o melhor lugar de estacionamento. Arrumo à pressa a tralha (comida, toalha e chapéu) e olho para a areia que ainda tenho pela frente - respiro fundo. Posso escolher o sítio que me apetece, o areal é extenso mas acabo por ficar sempre ao pé do mesmo casal de velhos e da Ana Malhoa (o tempo que estive a tentar lembrar-me de onde conhecia aquela cara...). Depois, é só passar o (obrigatório) creme, tostar (moderadamente) ao sol, arriscar um banho nas águas (frias) do Atlântico. E depois volto para casa antes do trânsito se complicar, sempre na faixa do meio na ponte porque tenho medo daquelas correntes. E, depois do banho, atiro-me a uma sesta. Esta vida de pobre tem coisas fantásticas, não é? (suspiro)

junho 04, 2007

Dormir mais feliz #1


I dreamed you were a cosmonaut
of the space between our chairs
and I was a cartographer
of the tangles in your hair.

junho 02, 2007

Podemos sentir saudades de quem não conhecemos?


Jeff Buckley, 17 Nov 1966 - 29 Mai 1997

Chegaste até mim numa cassete. Viajaste trezentos quilómetros dentro de um envelope porque ele dizia-me sempre Tens que ouvir isto. A acompanhar, vinha uma nota tão breve quanto enigmática que dizia You left stars in my belly.

É teu o disco que eu ouvi mais vezes na minha vida. São tuas as palavras que me feriam por serem tão certas mas que me consolavam por serem tão doces e tranquilas. Perdi a conta às vezes que ouvi as tuas músicas enquanto tentava não chorar ou enquanto me queria sentir protegida. Escreveste muita coisa que eu desejava ter posto em palavras mas não consegui ou não pude. A tua voz protegeu-me sempre.

Agora passam dez anos sobre a tua morte e eu sinto assim um vazio porque não te conheci em vida. Nunca tive a oportunidade de te ver num concerto ou de seguir a tua carreira de perto. O que me restou foi tentar saber quem eras antes de chegar a mim e guardar tudo como um tesouro. Vou recordar-te sempre assim, livre e sábio. Mesmo longe, continuaste a espalhar as estrelas por aí.

Mira Calix

Esta rapariga de ar cândido e delicado chama-se Mira Calix. Ou melhor, chama-se Chantal Passamonte mas responde agora pelo primeiro nome. Nasceu na África do Sul e pouco mais se sabe sobre ela - apenas que já trabalhou com nomes como Aphex Twin, Autechre e chegou mesmo a fazer tours com os Radiohead. Chegou ontem ao espaço café-concerto do CAEP muito discretamente, carregando a sua mochila onde certamente guarda muitos tesouros.

O seu ar casual, as semelhanças com Sofia Coppola e a forma natural com que passou o concerto apoiada nos seus joelhos fizeram-me simpatizar com ela. Mira utiliza muitas vezes, além dos sons de cordas ou da batida convencionais, a sua própria voz e elementos naturais que grava no meio que a rodeia. Enrolando finos cigarros enquanto olhava, curiosa, para o (infelizmente pouco) público, a artista ia saboreando as variações entre os ambientes melancólicos e quase naïves e as transições para batidas furiosas que faziam as paredes do recinto tremer. Mais do que demonstrar um entusiasmo vibrante, Mira parecia estar em plena harmonia com a música que saía daquele laptop e mesa de mistura, transmitindo uma sensação de tranquilidade que contrastava com a urgência com que as batidas eram lançadas para a audiência.

Acho que nunca tinha assistido a uma actuação deste género, ou melhor, tinha mas a música era mais dançável. Para mim, a música de Mira Calix não encaixa na definição de electrónica de dança - é música para viagens curtas mas contemplativas, é música para estar deitada numa sala, janelas abertas mas estores descidos, a brisa a fazer tremer as cortinas numa quente tarde de Verão.

Foi muito bom, portanto.

junho 01, 2007

[modo : experimentar]


Estar de férias não é só estar estendida no sofá ou só beber copos com os amigos. Hoje, e provavelmente no restante fim de semana, vou estar por aqui (no festival, claro está) a dar uma mãozinha no bar. Mesmo estando atrás do balcão, vai ser bom ouvir coisas novas, provavelmente muito distantes daquilo a que estou habituada. O CAEP está bom e recomenda-se.