março 29, 2007

Se me querem ver contente nestes dias, é levarem-me a ver um chick flick. E então se tiver assim um tipo já com rugas, sorriso impecável, sotaque de cavalheiro britânico e um toque de anca fenomenal, ainda melhor. Se ainda juntarmos uma miúda que é do tipo linda-sem-precisar-ser-deslumbrante, música ao som da qual é impossível não bater o pé e uma história boy-meets-girl com a dose ideal de lamechice, então tenho a tarde feita. E não, não é preciso que o filme seja uma obra-prima. Nem sequer é preciso que seja um grande filme. Só é preciso que me faça sentir bem.

(E o Hugh Grant podia ser um ganda Elton John. Com metade dos quilos, o dobro da sofisticação e infinitas vezes mais virilidade).

março 27, 2007

Às vezes acontece-me.

Acontece que me canso de meus pés e de minhas unhas,do meu cabelo e até da minha sombra. Acontece que me canso de ser homem [...] *

Um amigo falava-me um dia nas alterações de humor que sentia sempre que fazia uma noitada. A noite em si era de grande euforia e desprendimento, a conversa saía-lhe naturalmente sem qualquer hesitação, nada o fazia sentir incomodado ou inadequado, as pessoas eram interessantes. A esta agitação opunha-se o dia seguinte: a disposição era de tom depressivo, a vontade de estar num quarto sozinho e em silêncio impunha-se, sentia um vazio como se tivesse perdido (mais) uma parte de si. Num espaço de horas, sentia esse pico de euforia e afundava-se abruptamente num estado semi-depressivo, o corpo sem compreender, sem acompanhar o carrossel da mente.

É certo que não me sinto no meio desta montanha russa porque me deitei tarde. Nem porque bebi ou tomei qualquer droga, leve ou dura, excitante ou calmante que me deixasse num indefinido estado de humor. Mas assim estou: a experimentar a descida, a cair sem rede, pela milionésima vez na minha vida. Não sei se estou a cair sozinha ou se fui empurrada. Na semana passada acabou o Sol, a minha chefe castigou-me com exigências impossíveis um comportamento que nunca tive, a minha irmã não conseguiu aquilo por que há muito esperava, faltou-me a inspiração e a coragem. E por momentos não se acredita mais no cheiro a Verão e nem em romances nascidos na minha cabeça (sim, isto vai realmente ser um anúncio de televisão) nem em possibilidades. Nada. Vasculho os cds à procura de música de Verão *, qualquer coisa que seja capaz de me convencer a sossegar, qualquer coisa que cubra o cepticismo. E, guiada pelo post anterior, cheguei à banda sonora d' O Carteiro de Pablo Neruda. E agora, se me dão licença, vou ali ficar triste um bocadinho, que eu cá já aprendi a ser pragmática até com a tristeza.

* podem ouvir o Samuel L. Jackson a dizer este poema aqui.

março 21, 2007

20

Posso escrever os versos mais tristes esta noite
Escrever por exemplo:
A noite está fria e tiritam, azuis, os astros à distância
Gira o vento da noite pelo céu e canta
Posso escrever os versos mais tristes esta noite
Eu a quis e por vezes ela também me quis
Em noites como esta, apertei-a em meus braços
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito
Ela quis-me e às vezes eu também a queria
Como não ter amado seus grandes olhos fixos ?
Posso escrever os versos mais lindos esta noite
Pensar que não a tenho
Sentir que já a perdi
Ouvir a noite imensa mais profunda sem ela
E cai o verso na alma como orvalho no trigo
Que importa se não pode o meu amor guardá-la ?
A noite está estrelada e ela não está comigo
Isso é tudo
À distância alguém canta. A distância
Minha alma se exaspera por tê-la perdido
Para tê-la mais perto meu olhar a procura
Meu coração procura-a, ela não está comigo
A mesma noite faz brancas as mesmas árvores
Já não somos os mesmos que antes havíamos sido
Já não a quero, é certo
Porém quanto a queria !
A minha voz no vento ia tocar-lhe o ouvido
De outro. será de outro
Como antes de meus beijos
A sua voz, o seu corpo claro, os seus olhos infinitos
Já não a quero, é certo,
Porém talvez a queira
Ah ! é tão curto o amor, tão demorado o esquecimento
Porque em noites como esta
Eu a apertei em meus braços,
Minha alma se exaspera por havê-la perdido
Mesmo que seja a última esta dor que me causa
E estes versos os últimos que eu lhe tenha escrito.
(Pablo Neruda)

(Escreveram-me isto uma vez em jeito de prólogo, na primeira página dum livro de poesia, à mão. Sempre achei que era um poema de despedida mas agora, à distância, parece-me apenas um poema de amor. Nessa altura, este adeus doeu-me mais do que qualquer outra despedida da minha vida. Hoje, estes são apenas versos doces, de um passado ainda mais doce, escritos por um homem que tinha a mais delicada forma de amar as mulheres e que é figura central no meu filme preferido de todos os tempos. Não é só porque hoje é dia mundial da Poesia. É porque hoje arrasto-me mais do que me tenho de pé: há demasiadas coisas a acontecerem na minha vida e, na verdade, não há nada a acontecer. E assim afogo um bocadinho a minha raiva e a minha desorientação - embebedo-me com versos apaixonados.)

março 18, 2007

- E se eu fosse um peixe-lua?

- Então eu seria uma faca bem afiada, rasgando-te durante quatro longas primaveras.

[Peixe Lua passou ontem na 2:. Acho que agora percebo porque é que tu gostas tanto do filme.]

março 17, 2007

Aos Sábados ao Sol



Café bebido na Central da Estrela. The Most Serene Republic a tocar. Jornal atrasado enfiado à pressa na mala. Banco o mais ao Sol possível. A tentação de filmar as pessoas que passam. Manga curta e suor. A sensação de saciedade depois de ontem. Tempo para fechar os olhos e sentir que já cheira a calor.

março 16, 2007

Münster lädt ein! *

Se eu acreditasse nos horóscopos e assim devia andar mais atenta. Diziam eles para estar atenta a revoluções e a não recusar novas actividades, por estranhas que me parecessem. Como eu sei que eles deixam sempre um pistazinha para nós seguirmos, assim qualquer coisa que possamos dar como certo, eu ignorei. Mas diz que às vezes os signos têm razão.

Esta foi a minha primeira viagem de trabalho. Agora sim, pude experimentar o stress de entrar e sair de aeroportos em tempo recorde, de carregar comigo as conclusões das reuniões intermináveis, onde me sentei mais como aprendiz. Digo que foi a primeira viagem porque espero que muitas mais se sigam e que os destinos possam igualmente variar. Isto não é necessariamente importante: o que é realmente importante é alguém me ter aberto uma porta, dado um voto de confiança e me ter arrastado para horas de negociações pautadas pela inflexibilidade do adversário.


Calhou-me ir a Münster, bem no Norte da Alemanha, bem pegada com a Holanda. Está aí sediada a empresa e é ali que se sentam, por isso, os nossos adversários mais directos. Diziam-me antes de ir que ia secar por lá, que aquilo mais não é que uma aldeia. Mas, meus amigos, uma aldeia com uma rua inteirinha de lojas de luxo (lembro-me especialmente da Escada e da Jil Sander) não é para qualquer um. Não é para um país como Portugal, é mais o que quero dizer. Não tive, infelizmente, a oportunidade de ver a aldeia de dia mas à noite fiquei absolutamente fascinada com as ruas empedradas e de trânsito reservado a peões e bicicletas (esta é a cidade da Alemanha com mais bicicletas, orgulham-se eles), de prédios completamente restaurados e preservados, bem à maneira das capitais de sonho como Praga. A comida era óptima e, neste capítulo, retiro inteiramente tudo o que já disse sobre a Alemanha: a gastronomia deles não se resume a salsichas e couves.

É fixe viajar com o patrão na sua carrinha nova. É pena que o homem a conduza em mudanças automáticas (isso não é à macho!), que ouça Gipsy Kings quando nos vai buscar ('Spanish music for portuguese people, huh?') e que seja aí do dobro da minha altura. Mas isso são pormenores: quando nos levou directamente ao recinto da feira, com direito aos carrosseis da praxe, à curry wurst que tanto odeio e aos êxitos da música trash alemã do momento, eu fiquei satisfeita. Com sítios assim, até eu me tornava numa aldeã [suspiro]
* Münster convida, para os mais distraídos. Ou para os pouco versados em alemão.

março 11, 2007

A igreja estava gelada e cheia, havia mesmo que não tivesse lugar. Quando ouvimos o Sim resolvemos sair, já tinha acabado o que interessava, já estavam casados. Chegámos à festa quando a tarde, ainda quente, começava a dar lugar à noite. À beira da piscina, um quarteto de cordas dava as boas vindas aos convidados que se aglomeravam perto das mesas, esperando os noivos e o oficial início das festividades. Não havia outro vinho que não um Conventual macio e muito suave e as entradas, quarenta petiscos regionais, estavam ainda quentes. Vimos o Sol pôr-se à beira da piscina antes de nos sentarmos à mesa, onde saboreámos mais pratos de cozinha regional de fazer qualquer um salivar. Dançou-se bastante, sem direito a um acordeão ou a um orgão roufenho. Acho que já há muito tempo que não me ria assim. Quando vemos os outros felizes somos mais felizes também. É pena que a felicidade não seja uma epidemia.

março 10, 2007

As noites na Quina das Beatas II


Como sempre, tive vontade de escrever naquela hora. De dizer a melancolia que me ataca sempre que ouço estes acordes, sempre que ouço estas (poucas) palavras. E então se fingirmos que vale tudo e que as coisas nunca mudaram? E o que vai acontecer se eu confessar a minha falta de aptidão para ver além de ti? E se eu tivesse para te dizer todas estas notas, ordenadas desta maneira exacta e brutal, nesta amálgama de sons e de coisas que eles sentem enquanto estão a tocar? Mais ninguém na sala sente isto da mesma maneira dolorosa que eu sinto. Ninguém sente dor. Sentem apenas na pele um excesso de décibeis, um desconforto simples de resolver, uma preguiça do ouvido. Não quero mais sentir que vos ignoram e que ignoram, ao mesmo tempo, a minha dor. Sempre que vos ouvir a tocar esquecerei esta pressão de existir. Batam com violência na tarola, revirem a guitarra nesta solidão profunda que nos ataca no interior. Estamos sozinhos e gostamos. Ou não gostamos mas simplesmente não conhecemos outra maneira de sentir.

Nunca hei-de conseguir exprimir o que sinto pelos Linda Martini. Não é simpatia e não é estima. Não é solidariedade por serem portugueses. É apenas gratidão por musicarem o que eu sinto sem me perguntarem se é assim. É apenas a doce sensação de fazerem música violenta mas não para os ouvidos, apenas para os sentidos. Um dia, vou conseguir ver além deste estado final de melancolia que me abate. Eu quero engrossar as fileiras deste exército. Eu quero não sentir-me só. Por enquanto ainda estou.

Os Linda Martini tocaram na Quina das Beatas, em Portalegre.

março 06, 2007

Extasiada!




Só estou à espera que alguém me diga ou me mostre quanto vai valer isto tudo... Não estou a falar de dinheiro, há alturas em que isso é secundário. Mas... vê-los todos? Num só ano? Alguns mais que uma vez? Na, alguém me há-de explicar onde é que está o '...mas...'.

março 04, 2007

Auto-ajuda

Only meet new people . Only wear new clothes. Only give to new beggars. Only think new thoughts. Only eat new food. Only read new books. Only browse new websites. Only watch new channels. Only visit new places. Only make love to new bodies. Only buy new furniture. Only dance new moves. Only listen to new music. Only discuss new topics. Only dream new dreams.

[Este é um diário que promete mudar a nossa vida. Chato é quando nem com ajuda nos deixamos mudar.]