dezembro 29, 2006

Chegámos ao fim da canção...

Este foi um ano incrível e em que, pela primeira vez, os momentos bons superaram em muito os momentos maus ou péssimos. Houve um salto profissional (pequeno, é certo, mas depois disso vem o Mundo), houve uma casa nova a que hoje já chamo minha e tanta gente nova a cruzar-me o caminho. A febre de deixar Portugal acalmou, pequenas coisas começaram a fazer sentido e foi um bom ano em termos de crescimento pessoal. Se este ano que aí vem me trouxer tantas surpresas, então vai valer a pena de certeza não ter medo de avançar.

Há uns anos atrás, numa viagem a propósito da passagem de ano, deixaram-me uma marca. Um amigo lançou para o ar que devemos deixar para trás tudo o que não nos deixa feliz e fazê-lo, por exemplo, de uma forma simbólica: apagando todas as mensagens que temos no telefone. Porque, eu não sei vocês, mas a mim dá-me sempre uma nostalgia estúpida quando tento apagar alguma. Como se o não apagar pudesse trazer aquele momento exacto de volta. Como se se pudesse sentir a mesma coisa de maneira totalmente idêntica e repetir a sensação uma e outra vez, até a mensagem esgotar o seu sentido. Desde aí limpo a minha caixa de entrada e também a minha caixa de saída, garantindo que não levo passado para o ano que vem aí. E mais uma vez vou apagar tudo, a custo, eu sei. Tudo o que tiver que ser guardado ficará apenas na memória, onde só eu posso vasculhar e onde posso calma ou atabalhoadamente guardar as recordações.

Portanto, entrarei no novo ano como uma folha em branco, como se estivesse num qualquer estádio de inocência ou de castidade. Estou pronta a reescrever tudo, rasurar, rabiscar, rascunhar ou escrever a tinta permanente. E é esta receptividade e disponibilidade para o futuro que desejo a todos. Um Feliz Ano de 2007, em branco, com o caderno meio cheio ou com o caderno escrito até ao fim. Quero ser e desejo que sejam felizes!

dezembro 28, 2006

Casa (fazemos de conta)




Às vezes esqueço-me de como é bom voltar.

(Combinar tudo à pressa. Sair para as noites geladas sem saber muito bem onde aterrar. Lanchar na véspera de Natal, perto da fonte. Falar de coisas sérias como quem está a brincar. Não falar do que se deve falar. Chegar a casa a cheirar ao fumo dos vossos cigarros. Sair só porque sim. Enfiar-me na cama às cinco da manhã de uma terça-feira. Entrar em todas as capelinhas para tentar fingir que ainda não são horas. Levar a casa os que precisam. Deixar para trás o que ainda se aguentam. Escrever um pedaço de música popular. Descansar e distrair a minha cabeça nesse vosso ombro colectivo. Se não voltarmos hoje, voltaremos amanhã.)

Fotos autoria [T]

dezembro 24, 2006

Season Greetings



As manas Maurícias desejam a todos um Natal muito feliz. Façam o favor de serem felizes, onde, como ou com quem for. E nada de abusar nos Mon Cherri (blhearc!) ou nos Ferrero Rocher (blhearc!).

dezembro 22, 2006




Hoje ainda não tinha anoitecido completamente quando atravessei o Jardim da Estrela. Como sempre, e quando cheguei ao portão de saída, fiquei esmagada pela Basílica: estas dimensões sempre me impressionaram um bocado. É um medo assim irreal e inexplicável que sinto destas obras em tamanho XXL, como o são também os eólitos espalhados por aí e dos quais sinto mesmo terror.Enquanto caminhava às escuras pelo jardim ocorreu-me que ontem foi o dia do Solstício de Inverno, o que me alegrou - os dias começam a partir de ontem a ser mais compridos, a noite chega sempre mais tarde. E ia jurar que hoje mesmo já se sentia a diferença.


No capítulo obrigatório do Natal as coisas estão quase encerradas. Todo este stress, esta profusão de luzes pelas ruas, Pais Natais a trepar na janela (OK, enforcar o Pai Natal afinal tinha piada, tinhas razão), concursos de Natal, prendas singelas e menos singelas, bolos em doses industriais e proibidas, zangas com quem mais gosto (sempre obrigatórias e ainda longe de terminar porque a noite da Consoada ainda vai longe...) esgotaram parte do meu (pouquíssimo) espírito de Natal. Salvam-se as coisas que fazemos com as nossas mãos e que esperamos sejam apreciadas, as coisas que vamos podendo retribuir (sempre em quantidade insuficiente), os desejos de quem não dizia uma palavra há muito. Se estes 4/5 dias que vou passar a casa não me trouxerem paz de espírito, então não sei o que mais vai consegui-lo. E se eu já normalmente não me sinto embuída deste fenómeno festivo, sem um bocadinho de descanso as coisas pioram - e solta-se, quem sabe, a psicopata em potência que existe em mim. Portanto, vamos lá a acalmar todos: esta jovem precisa de tempo para não fazer nada e para não pensar em ninguém - a não ser eu.


E depois as horas não passam. Este é o quarto fim de semana consecutivo em Lisboa e isso não está de forma nenhuma a contribuir positivamente para este princípio de neurose. Lembro-me quando estava em Berlim e uma semana antes do Natal me sentia a sufocar e só pensava em sair de casa a correr, tropeçar na neve, mergulhar no Spree mas correr até Portugal. Num só fôlego. E como sentia que a cidade que também amava me tinha estendido uma jaula à volta e me obrigava a amá-la ainda mais, esgotando-me e sugando-me o amor que lhe tinha. Lembro-me do suspiro gigante que dei quando aterrei na Portela e como tinha desejo de absorver tudo de novo, tudo outra vez. Agora são só duzentos quilómetros que me separam de Casa e a sensação é semelhante. Porque a minha Casa também me desinquieta: matava-me se lá ficasse sempre mas é um pedaço meu sempre que lá não estou.


Por isso, com Natal ou sem ele, lá vou de viagem, de malas e presentes às costas, montada em 57 cavalos que amanhã vou chamar de renas. E não sei vocês mas depois deste texto todo carregado de ansiedade eu exijo que seja Natal. Uff.

(Hoje o espírito de Natal vai resumir-se a umas cervejas e um concerto dos X-Wife. Pode ser que amanhã o Pai Natal me consiga acordar a tempo para trabalhar.)

dezembro 20, 2006

A sabedoria popular é uma coisa muito bonita e muito acertada também. E eu gosto dela, porque normalmente não me deixa ficar mal. Desta vez, o provérbio que se materializou perante mim foi o brilhante 'Não há duas sem três.' ou, numa versão que prefiro, 'À terceira canta o galo'.

Há por aí quem diga que o Universo é um tipo que conspira baixinho e parece-me que desta vez, e para variar um bocado, se virou contra mim. Mas, da mesma maneira que me tira, este Universo também me dá. E eu já começo a achar que isto é tudo menos coincidência. Depois de A Naifa e dos Yo La Tengo, aqui a yours truly vai hoje pisar mais uma vez o território do Santiago Alquimista para poder (re)ver o delicado e contundente JP Simões. Portanto, temos que

Amargo de boca + Decisão errada= Bilhete para concerto

que, apesar de ser uma fórmula compensadora, já começa a irritar um bocadinho. Não, eu não sou pobre e mal agradecida: gostava era de acertar mais e ouvir menos. Em todo o caso, um abraço ao pessoal da Radar, que já deve achar que nós não fazemos mái'nada senão telefonar para eles. E vivam os bilhetes totalmente grátes: não resolvem embrulhadas mas sempre afagam o ego.

dezembro 18, 2006

E porque eu quero o vosso bem, amigos leitores...


... aqui deixo uma coisa que todos deviam experimentar: o Galão Alentejano da minha terra! Não só o leite é de primeiríssima qualidade mas estão também a promover o desenvolvimento do interior esquecido e ostracizado. A sério... Quem teve esta ideia de galão de levar para casa merece o meu mais sincero bem-haja. Gosto de pessoas com ideias.

dezembro 17, 2006

Estou sentada na minha cadeira cor de rosa, a tentar preparar o que falta do presépio que idealizámos para o trabalho. Desta vez tive sorte e fiquei com a tarefa que mais me agradava: colorir as figuras, já devidamente montadas com as nossas caras. E tive ainda mais sorte porque era exactamente o que precisava nesta altura: uns momentos sem pensar em mais nada, só a combinar as cores e tentar não ultrapassar os contornos. Porque às vezes as coisas nos saem fora do alcance e porque é tudo muito mais complicado na vida real, é bom apenas pintar. Sem mais nada, só ficar a olhar atentamente para as cores de que dispomos, conferir se o lápis está devidamente afiado, ter a certeza que não vamos borrar isto como borramos realmente tudo o resto. E vejam se não tive mesmo sorte: a mim foi destinado o papel de Anjo. Mas, francamente, não há nada de que me sinta mais distante neste momento. Mas como o espírito de Natal não se compadece da minha realidade, vou ficar agradecida e pintar tudo com muito muito cuidado - todo o cuidado que dispenso em tudo o resto.



dezembro 14, 2006

É Natal no restaurante Sevilhana e essas coisas assim.



Eu e o chefinho. O chefinho não aguenta o flash que as máquinas modernas disparam e vai daí, deixa-se estar de olho fechado para não se chatear. É a pessoa com quem mais me lembro de discutir (saudavelmente, entenda-se). Não há quase nenhum assunto em que não discordemos: a higiene dos restaurantes chineses, o democracia (!) em Cuba, a actividade física ou as letras dos Moonspell. Mesmo assim, damo-nos muito bem. Menos quando ele me arrasta para bares góticos decadentes ou para bares em que o heavy metal toca muito acima dos decibéis que os meus ouvidos aguentam.

Faço um brinde. Comigo brinda a malta da pesada. Esta é a malta com quem ganho bilhetes para concertos, a malta com quem se pode beber duas imperiais e dar outros tantos dedos de conversa, a malta que quer fazer compras e ir ginasticar e ver filmes exclusivamente para mulheres. Da esquerda para a direita temos os dois chefinhos da nossa equipa, uma alentejana do Gavião, um alentejano de Castro Verde e a menina mais picuinhas da sala. Fofos.




Ao jantar segue-se um mini-espectáculo de Flamenco. Eu não consigo ver mais nada quando começa a tocar aquela música. Nunca soube explicar porquê mas sempre fiquei hipnotizada pelas saias, leques, cabelos bem apanhados atrás, flores no cabelo e pele morena. Fico completamente seduzida pelos movimentos dos bailarinos e não permito a ninguém a interrupção deste momento. Ao som de algumas guitarras parece que fico com os olhos marejados: é um som carnal e trágico. Y olé!

(fotografias de minha autoria, à excepção da primeira, da autoria da C.)

dezembro 12, 2006

American Psycho II (revisitado)

Eu já sabia que o moço tinha problemas. Que era um tipo um pouco perturbado por uma experiência de vida algo invulgar. Que era uma pessoa que não se encaixava nas nossas definições de pessoa normal. E sabia que, acima de tudo, ele era um inadaptado. Muitas vezes nos tinha ocorrido que algo de muito grave tinha acontecido com este rapaz que o impossibilitava de se integrar, de agir com naturalidade. Muitas mais vezes ainda rimos dos factos que dispara para quem quer ouvir ('Vocês sabem que no Pólo Norte não é preciso existirem frigoríficos?' ou então 'Vocês sabem que existem três tipos de liberdades: a de expressão, a de pensamento e a de acção?'), da forma como sorve o chá todas as manhãs ou da total incapacidade de se concentrar nas instruções de trabalho.

E ontem, no jantar de Natal do nosso piso, o rapaz voltou a mostrar porque é que às vezes quase temos medo dele. No meio de 40 pessoas foi o único a beber vinho demais. Bebia-o como copos de água, dizia quem estava junto dele. Falou muito, a contrariar todos os dias em que trabalhou até agora. Gritou o meu nome muitas vezes, exigiu que fosse com ele para o Catacumbas (onde suspeito que, apesar de apregoar o contrário, nunca pôs pé). Tornou-se agressivo e saiu do jantar já a cambalear. Mas, para mim, tinha guardado a pérola da noite. Eu já estava no escuro, debaixo dos lençóis quando o telemóvel tocou. Não conhecendo o número, atendi porque pensei que alguém podia precisar de alguma coisa. Ele atendeu, gritando o meu nome mais uma vez e eu assustei-me. Quando eu perguntei o que queria, ele respondeu-me que tinha acabado de vomitar. E pediu-me que não sentíssemos a falta dele, a sua folga seria curta. Eu fiquei sem saber o que dizer e pedi-lhe para desligar. Desliguei eu. Debaixo do edredon, ri-me, desprevenida. Mas adormeci dividida por dois sentimentos: por um lado, incomodada com o acontecimento do tipo stalker; por outro, invadida pela pena de alguém a quem talvez doa apenas ser.

dezembro 10, 2006

American Psycho (ou a vontade de transgredir)


There is no catharsis. My punishment continues to elope me.

(Tarde de Domingo passada a fingir que amanhã não é Segunda e que não tenho que acordar ainda o dia não nasceu e trabalhar outra vez. Escolho rever este filme em vez da normal comédia romântica que devemos ver numa tarde de Domingo. Compreendo mais uma vez o que me atrai tanto na personagem de Patrick Bateman: a sua frieza e a dor que sente por ser apenas um desalinhado; uma necessidade de satisfação que não consegue conter com os estímulos materiais; um total desprezo pelas mais primitivas emoções do ser humano; a classe e a elegância, mesmo quando ergue o machado com que vai torturar a próxima vítima. Não imagino uma pessoa assim. E é exactamente isso que mais me faz gostar dele.)

dezembro 09, 2006

Vou no carro a conduzir depressa, não gosto de chegar atrasada. Caem uns aguaceiros tímidos mas eu já os vejo como se fosse desabar o céu. Páro na descida das Amoreiras, páro na rotunda do Marquês, páro na Fontes Pereira de Melo, assim não dá, assim nunca vou chegar a horas. O meu estômago quer rebentar com tanto nervoso miudinho e estou a pensar, enquanto conduzo, que não, não posso ser uma pessoa normal. Estaciono o carro e chego à porta - tu não estás. Pensei que já não vinhas, que te tinhas arrependido, que nunca tinhas tido a intenção de vir. Desci as escadas e subi-as novamente e tu estavas lá, como tínhamos combinado. Sentas-te ao meu lado, no escuro. Eu já vi o filme mas acho que é bom vê-lo contigo. O estômago dá-me tréguas por uns instantes.

Entramos naquela cave velha e fumarenta. Eu bebo a minha cerveja depressa, tu desdobras-te em atenções para tanta gente. Não podemos falar porque a banda está a tocar e por isso encostamo-nos à parede, as minhas costas viradas para ti até que a música acaba. Conversamos, eu a tentar ser natural, tu a tentares perceber se eu era natural. Dentro de mim havia uma voz a dizer 'Banana!'. Quando saímos do táxi rimos com a dificuldade de expressão do taxista e a localização da rua da Palmeira.

Conduzes-me na noite em que não ias decidir nada. Onde entras há sempre alguém que te cumprimenta, há sempre alguém que te pisca um olho ou que fica espantado por te ver. Descemos a rua dos Poiais de São Bento, paramos para nos abrigarmos num parque de estacionamento, continuamos e entramos: tu esperas música electrónica, eu o rock. Ganhei. Não há espaço para dançarmos, apenas para estarmos muito juntos. Demasiado juntos, diria eu numa outra altura. Eu não imaginava, tu não sabias e as coisas precipitaram-se na mesma. Ocupamos parte do balcão, enquanto bebemos mais cerveja. Somos dos últimos a sair quando se acendem as luzes e ganhamos um sorriso cúmplice do empregado.

Ainda há tempo para a rua do Século, para o Conservatório, para o Clube Mercado. Já era tão tarde, eu já estava acordada há 24 horas mas não o sentia. Quando me deixaste à porta do carro gostava que o dia pudesse ser bem mais comprido. Acho que foi bom. E sei exactamente o que isso quer dizer.

dezembro 06, 2006

Blindness

I don't want a relationship.
I just want to be with you all the time. *

(E as vezes que já senti isto. Assim aquela cegueira de querer estar com uma pessoa até estarmos saturados. Uma vontade inexplicável de me sentar ao seu lado e nem sequer dizer nada. Uma vez perguntaram-me o que era isso de 'estar comigo' e eu não soube bem responder. É um estado em que o silêncio é suficiente e compensador. Desejar que esse momento em que estamos lado a lado se repita infinitamente, como uma máquina do tempo de um segundo, disparando flashes numa sequência perfeita que não deixa o momento acabar. O coração parece um cavalo, no estômago voam as borboletas que dão o nome à minha casa, a boca seca, o cérebro funciona apenas em modo embriaguez total. Mesmo depois de esgotado o silêncio ainda haver a vontade de ficar, só porque nos sabe bem, só porque cheiras bem e já não chega conseguir cheirar-te nos meus dedos. É o único estado que nos faz atirar de cabeça de todas as vezes, a única altura em que deixamos de ser nós a decidir e passamos apenas a obedecer(-lhe). Às cegas. As vezes que já me senti assim e as saudades que me dão. Às vezes.)

* maravilhosamente dito num dos episódios da L Word.

dezembro 04, 2006

You can have it all *

O jantar é o de segunda-feira, início de uma semana interrompida pela folga de amanhã. Hoje excedi-me, tomei coragem e respirei fundo: preparei uma enorme salada toscana com rúcola (será este o termo português?). O prato em si é apenas completado por frango com molho agridoce, não há mais lugares na mesa. Se há coisa que detesto mas detesto mesmo, assim com força e com os punhos cerrados e com olhos a soltarem faíscas miudinhas é comer sozinha. Acho que me lembro de poucas coisas tão deprimentes como sentar-me à mesa e não haver ninguém a sentar-se ao meu lado. Esta coisa da independência e da emancipação é muito gira mas porra, já vou começando a achar que seria a altura de não me emancipar sozinha. E com isto não falo apenas dos males do coração: bastava-me ter a minha pequenina aqui e a mesa tinha risadas parvas, a cozinha deixava de fazer eco.

Hoje declinei um amável convite para ir ver o Jorge Palma no casino de Lisboa. Que parva!, dirão alguns. Talvez mas eu tenho as minhas razões. Primeiro, e mesmo que isto pareça impensável a muito boa gente, eu não gosto de Jorge Palma. Uma coisa é admitir que o homem escreve bem que se farta e que tem ali uns poemas muito, muito catitas. Outra é gostar mesmo, assim gostar de quem saca os cds ou gostar ainda mais, gostar o suficiente para possuir a discografia integral do homem, tudo em original. Eu não gosto dele e pronto. Nem é por ele ser seboso e beber litros e litros de uísque antes dos concertos (bem, até ele sabe que só assim é que se atura a si próprio...). É mesmo porque ele é um ódio de estimação e isso não se explica, não é?

E depois há aquela questão de ter o ouvidinho cheio de música, também ela da boa. O concerto de sexta no Maria Matos deu a conhecer A Naifa a uma amiga holandesa. Ela saiu impressionada, eu nem tanto. É certo que eles são sempre bons e a voz da Mitó enche qualquer sala de espectáculo. Mas a sala era pequena, propícia a um concerto intimista e quase não existiu interacção com o público. Talvez apenas no final, quando nos foi pedido que acompanhássemos a 'Desfolhada', na habitual versão-em-jeito-de-encore, com palmas e com uns movimentos muito tímidos. O entusiasmo da minha amiga vai galgar fronteiras até à sua terra natal e eu fico contente - afinal, é uma forma muito indirecta de promover a (boa) música portuguesa. E ontem, para terminar a maré de sorte dos bilhetes, foi dia de ver os Yo La Tengo. O concerto foi uma belíssima surpresa, especialmente porque não conhecia a música deles com tanto pormenor. Ainda assim, e mesmo não podendo cantarolar os maiores hits tocados pelo trio eléctrico (mesmo figuradamente!), gostei mesmo do concerto. Os momentos dividiram-se entre os hilariantes, os absolutamente doces e os de descargas eléctricas brutais. Belíssima noite de Domingo, portanto.

E para terminar o dia em beleza lembrei-me que hoje celebrei os primeiros seis meses de trabalho nesta era. Há, pelo menos, mais seis meses frenéticos à minha frente, o que só me deixa exultante (pois, que a casa não se paga sozinha!). Agora que esta parte está assente, vamos então às outras?

* quer dizer, mais ou menos tudo.