janeiro 19, 2006

Às vezes, por breves momentos, tenho uma panorâmica sobre a forma como a minha percepção da realidade é errada e destorcida e claramente centrada em mim. Além de não saber, por exemplo, medir distâncias (ninguém imagina o embaraço que é não saber dizer o que são 5 metros e corar descaradamente quando me pedem para descrever aproximadamente um quilómetro), há outras coisas que também não sei avaliar ou simplesmente ver.


Não sei ver quando devo ultrapassar e, por isso, vou sempre irritada comigo mesma por ter perdido mais uma oportunidade.

Não sei, nunca soube estudar, seguir um método que me garantisse sucesso, agarrar-me como se não houvesse amanhã a um molho de fotocópias que simplesmente não me interessa.

Não sei pensar que Portugal é mais do que apenas aqueles pedaços de terra que rodeiam as estradas, como se um país pudesse construído à beira da estrada (o nosso podia, eu sei, mas não é).

Não sei comer uma tangerina sem ser um gomo de cada vez.

Não sei deixar de gostar de quem obviamente não gosta de mim.

Não consigo imaginar que, por todo o lado, espalhadas por quilómetros que nunca vou saber medir, existem pessoas que vivem ao mesmo tempo que eu e têm vidas tão diferentes e tão cheias de pormenores e que podem sentir dor enquanto eu experimento a sensação de ver a minha irmã a rir.

E não sei sentir-me de outra maneira. Olho-me e vejo uma criança dentro de um corpo adulto, uma criança que quer a todo o custo crescer mas não consegue porque se calhar agora já é tarde demais para conseguir saber quanto mede um metro.

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