dezembro 10, 2005

Irrita-me profundamente que aquelas fases em que finalmente resolvemos confiar nos outros sejam repetidamente interrompidas por uma notícia menos boa, por mais uma desilusão. Como é que podemos ser pessoas estáveis, se de repente nos enfiam uma facada nas costas? Já toda a gente o sentiu, já toda a gente o lamentou mas hoje não deu, não deu mesmo para me manter calada.


Há uma data de provérbios que de repente passam a fazer sentido ('Com amigos destes, quem precisa de inimigos?' ou 'Mantém os amigos perto e os inimigos ainda mais perto'), há decisões que nos passam pela cabeça mas nunca vão ser tomadas, há raiva que dificilmente é contida, há conversas que nos arrependemos de alguma vez terem acontecido, há uma profunda desilusão porque, mais uma puta de uma vez, aquilo que tomávamos como verdadeiro não o é.


Mas o que me irrita ainda mais é que estas pessoas, do alto (ou deverei dizer do baixo, do rastejante) da sua mentira, mesquinhez e deslealdade, nos fazem deixar de acreditar que um mundo bom é possível. Irrita-me que sejam exactamente as mesmas pessoas que recebo, que acolho no meu coração (não que isso seja algo realmente importante) a tornarem o meu mundo numa coisa bem mais miserável. Só que desta vez só me engasgo em raiva, não tenho pena de mim e muito menos pena da outra pessoa. Só quero que essa pessoa um dia se morda a si própria e prove um bocado da destruição que foi espalhando ao longo do caminho. Tenho dito.


[Também irritante é a promessa que fazemos em manter a boca fechada. Quem é que inventou essa ideia de moral, que advém do facto de guardarmos um segredo?]

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