março 23, 2005

Sem saber o que ouvir - não por falta de música mas por excesso de escolha -, fui desencantar no meio dos meus mp3s o cd 'Relationship of Command' dos At The Drive-In, que são uns tipos com cabeleiras afro e energia suficiente para fazer trabalhar uma central eléctrica.


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Com uma história algo curta, os At The Drive In deixaram já de existir e deram lugar a duas novas bandas: os Sparta e os The Mars Volta (bandas que, segundo creio, já passaram por Portugal). É compreensível que nunca tenha podido assistir a uma actuação deles, uma vez que faziam parte de um movimento underground que parece ter passado um pouco ao lado de Portugal.
Os At The Drive In afastam-se um bocado dos géneros musicais que ouço mais, se queremos falar em rótulos. Mas eles têm um pequeno problema: não me parece que seja possível aplicar-lhes um desses rótulos. A música que faziam não se enquadrava em nada do que já tinha ouvido e continuo a não achar uma categoria (por muito mau que seja arrumar as coisas assim) onde os possa encaixar. Curioso é que, mesmo com a minha tendência para recusar música mais agressiva, continuo ainda a ouvi-los porque este é outro tipo de 'agressão': é a música feita por alguém que destila energia por necessidade, alguém que não se debate com raivas ou ódios (ou os sentimentos negativos que costumam ser associados à música mais pesada) mas se move no mundo com um certo nível de abstracção e imaginação, matéria prima de todas as canções.
A outra característica que me conquistou também é a insondabilidade das letras que escrevem: não há aqui a estrutura de uma canção no seu sentido tradicional. Talvez na forma isso exista porque eles não recusam o sistema estrofe/refrão/estrofe. Mas o conteúdo.. Imaginem uma cartola de um mágico, para onde deitamos cartões com frases soltas; as frases devem ser o mais enigmáticas possível, sem nexo mesmo; o passo final é tirarmos cartões aleatoriamente e assim construir uma letra de uma canção! O que é mais estranho ainda (ainda mais?) é que as frases, aparentemente disconexas, constroem ambientes futuristas e negros, que me fazem sentir como se andasse à deriva num mundo em ruínas.
E agora, especialmente porque é a canção que mais me fez pular (deles, claro), deixo a letra de 'Enfilade', um delírio rítmico, cuja letra nos transporta para um cenário de rapto e pedido de resgate (ouça-se o telefonema inicial).

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